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Timor
Dili
M
33
1999
e... os timorenses... claro que aqueles timorenses que nasceram já depois, bom, eu estou a fazer uma pergunta desnecessária, porque estes rapazes já nasceram depois da invasão e sentem-se sempre timorenses, não é,. eh, eu admiro-me bastante. admiro-me bastante porque... foram educados nas escolas indonésias mas não perdem assim a sua identidade e o seu orgulho de ser timorense. portanto eu me admiro bastante.. hum, hum.. é.. eh.... é verdade. os pais terão contribuído muito para isso, não acha?. é. eu creio que sim. isto é o resultado da contribuição dos pais. os pais é que contribuiram tanto. hum.. durante esta ocupação para que hoje em dia os filhos tornam assim. se não fosses os pais, pronto, não fossem os pais, os filhos nunca tiveram ou, não teriam que ser como agora. pois.. são, não é,. pois. porque, porque já nasceram, já cresceram debaixo da influência da. sim.. da Indonésia.. é.. mas diz-se que, q[...], eh, os indonésios, por exemplo, dizem que fizeram mais, em vinte e poucos anos que fizeram mais por Timor do que os portugueses em quatro séculos e meio.. eh, politicamente, a Indonésia tem sempre arranjado estratégias ou, diplomaticamente, ela tem que jogar assim.. hum, hum.. mas a, nós não negamos, fez bastante. se bem que com este desenvolvimento poderá assim mudar ou transformar a identidade de um povo? a paz não é para ser vendida ou não é para ser comp[...]. não é uma, u[...], uma questão muito assim fundamental. e a independência também é uma questão muito fund[...], fundamental. portanto nós, mesmo que a Indonésia construísse em Timor prédios com, bom, de ouro, de platina, nós nunca que iríamos vender a nossa liberdade e a nossa independência.. pois. sabe uma coisa que eu acho curiosa, o, os indonésios viveram quatrocentos e cinquenta, os indonésios não, os timorenses. os timorenses.. viveram quatrocentos e cinquenta anos. sim.. colonizados pelos portugueses e sempre aceitaram essa colonização. e depois. sim.. porque é que não aceitaram depois?. a maneira muito diferente. os portugueses entraram em Timor com uma, uma cruz.. hum, hum.. a cruz de Cristo. o objectivo era aquela, a evangelização, o cristianismo, expandir o ensinamento de Cristo. hum, hum.. no sudoeste asiático. e os indonésios tomaram uma outra maneira muito assim diferente do que os portugueses.. hum, hum.. foram, invadiram, mataram, massacraram e assassinaram aquele povo, portanto, sabemos, aquele povo também, o povo de Timor era um povo assim revoltoso, nunca queria que alguém lhe fizesse mal. foi daí é que este povo, e, por mais razão, muito assim fundamental era... a independência.. a independência. . a liberdade.. hum, hum. disse-me que os portugueses entraram, eh, em Timor com uma cruz na mão, é verdade, eh, e a, a pergunta que eu lhe fazia era a seguinte: havia, eh, eh, religiões, eh, tradicionais, em Timor. eh, exactamente.. eh, e, e depois entrou o cristianismo. essas religiões tradicionais desapareceram por completo ou mantêm-se de certo modo?. eh, alguns mantêm-se clandestinamente. não todas. não todas as religiões desapareceram na altura. eh, os portugueses, conforme o que eu tinha ouvido, os pais me contaram de que conseguiram não fazer desaparecer a, a religião tradicional, mas a, conseguiram assim introduzir o cristianismo em Timor, utilizando assim a, um, uma, uma maneira muito, muito, muito suave, digamos assim, que, para aqueles que, na altura, queriam que os filhos fossem assim educados nas escolas, tinham que aceitar a ser baptizados.. hum.. e daí mudaram-lhe o nome. o nome, nome assim, eh, natural é um nome muito... original, do povo, era, bom, Mau Lec ou Mau Be ou... um Mau qualquer.. 'mau' quer dizer homem, não é,. 'mau' é homem, é grande.. hum, hum, bom.. 'mau' é homem, é grande, é senhor.. hum, hum.. é. e depois, pronto, daí os portugueses introduziram, aplicaram aquele, aquele método, conseguiram mesmo introduzir a, o cristianismo e, abafaram, não é, posso dizer assim, o, a religião tradicional daquele povo. foi daí é que... a religião tradicional desapareceu, de pouco a pouco.. hum, hum.. na, mas era um dos benefícios de Timor-Leste.
Timor
Baucau
M
25
1999
costuma ouvir cá as notícias sobre Timor, aqui em Portugal?. sim.. e. todo o dia.. todo o dia. . acompanha sempre. ham, ham. acha que, que eles dão bem as notícias ou.... não, o nosso problema foi... precisamente isso, sobre... as imprensas.. hum, hum. . são as imprensas e eles conseguem divulgar o nosso caso através dessa, dessas maneira.. hum, hum.. também é uma parte da luta.. hum, hum.. pois, nós conseguimos e, convencer os jornalistas para entrar lá dentro e divulgar o nosso, o nosso caso. se f[...], se fo[...], se não foram eles, o nosso caso foram, eh, foi abafado.. hum, hum. aqui, por exemplo, há cinco anos atrás, acreditava que o problema de Timor se ia resolver assim depressa?. não. não acreditamos.. eu tam[...], eu também não pensava.. mas é uma grande surpresa para nós, tudo isso, também o papel do juventude e... a nossa resistência, juntamente com a nossa resistência, a igreja. hum, hum.. consolidar a área internacional e tudo isto, e também o esforço do governo português.. acha que, o, quando o prémio, o Prémio Nobel foi atribuído a dois timorenses, que isso foi um passo importante para, para o desenvolvimento, quando Ramos Horta. s[...]. e Dom Ximenes Belo ganham o Prémio Nobel?. sim, sim. é um passo importante porque, através desse nobe[...], Nobel e, conseguimos ganhar a opinião pública e, a opinião pública internacional e, por uma parte, e por a outra parte conseguimos ganhar a simpatia da comoda[...], comunidade internacional.. foi muito importante, não é,. sim, foi muito importante. e ganhámos um grande passo.. pois. pois, eu penso s[...], penso que aí foi um primeiro.... sim.. um primeiro passo importante.. o primeiro passo que conseguiu, eh, conseguimos, eh, afectar toda a comunidade internacional foi o massacre de Santa Cruz.. hum, hum.. o massacre foi.... estava lá nessa altura?. eu não, não estive lá.. não.. eu não participei.. não, mas eu digo, estava em ti[...], Macau, em. sim, eu estive em Timor.. Timor, nessa altura.. estive em Timor naquela altura, mas eu não participei.. claro. Baucau ainda é longe. sim.. de Dili. pois. e, o facto da, dos problemas internos da Indonésia também deve ter ajudado.... sim, deve ter. há muitas... grupos de opositores da, do Suarto neste momento estão a trabalhar juntamente connosco. e, através dessa, através do nosso... problema eles também aproveitaram para, eh, implantar a... democracia lá dentro do país deles, pronto, dentro do, da Indonésia. pro[...], porque eles, neste momento, estão a lutar para, ah, ganhar um passo da democracia dentro da Indonésia.. hum, hum. e, e penso que, eh, Timor também trouxe muitos problemas à Indonésia, não é,. sim, sim.. em termos de.... por exemplo, eh, neste momento há, há [...], há Atché e mais Molucas, Papua, neste momento elas estão a lutar para... o seu destino, mas pronto, os seus destinos.. claro.. mas pronto, neste momento eles estão lutando, só que eles tem problema diferente com o nosso. o nosso é outra coisa. nós não, não, não so[...], não fomos colonizado pelo holandês.. pois.. fomos colonizados pelo... português. e é, e é esta a diferença.. hum, hum. pois.. geograficamente, pronto, a mesma, mas, historicamente é diferente.
Timor
Timor
M
null
null
depois destes anos de ocupação indonésia, a situação em Timor alterou-se, eh, nomeadamente a linguística. o padre Francisco Fernandes tem conhecimento de qual é a situação actual?. de facto, como afirmou, eh, a situação política, eh, condicionou a situação linguística. antes o ensino do português era oficial, apoiado pela, governo e igreja, hoje está completamente banido. a situação actual, o aprendizagem do português foi ainda feito pela igreja, até mil novecentos noventa e dois, no Externato São José, que foi encerrado depois de doze de Novembro, do massacre de Santa Cruz. a partir daí, a língua portuguesa é aprendida, praticamente, nas famílias, as pessoas têm agora a tendência de se afirmar diferentemente dos indonésios. portanto, falam português, embora o português não seja correcto, mas tenta expressar-se em português, na situação actual, e até... há indonésios que aprendem português, neste momento.. eh, ó padre Francisco, há aí um, um ponto que de facto, eh, a mim surge-me, pessoalmente, algumas dúvidas: havia alguns casos em que a língua portuguesa era ensinada como língua materna? portanto, eu digo, antigamente, ou o português era aprendido mais tarde como língua estrangeira?. eh, na, durante a administração portuguesa, o, os pais que sabiam português procuravam ensinar os seus filhos o português. e esse ensino depois é continuado nas escolas, sobretudo nas escolas das missões, eh, espalhadas pelo... território. portanto, é raro o aprender o ensino do português como língua estrangeira, mais tarde, a não ser os chineses.. hum, hum.. os chineses e outros, ou... árabes que se encontram em Timor, aprendem a língua, eh, portuguesa como língua estrangeira, mas o timorense ataca logo, como língua materna.. hum, hum. eh, então pelo que vejo, portanto, digamos que Timor seria um mosaico linguístico, tinha-me falado inclusive dos dialectos, podia talvez explicar-nos um pouco isso.. de facto, é um caso estranho, que uma ilha tão pequena com... vinte mil quilómetros quadrados, e é, e é bombardeada ou ex[...], eh, in[...], confrontada com diversidade de línguas, ou dialectos. vinte, pelo menos, oficialmente registados. hum, hum, hum.. são vinte, em que a língua franca é o tétum.. hum, hum.. por exemplo, só no meu caso, na, na minha terra, um posto com... uma superfície um pouco superior a Macau aí... vinte vezes, fala quatro línguas, ou quatro dialectos. hum, hum.. para uma população de dez mil. falam quatro dialectos diferentes. mas todos eles compreendem, ouvem ou compreendem tétum. portanto, tétum é a língua franca para toda a, a ilha.. hum, hum, hum.. para, depois do português ou do, é tétum primeiro, depois é português. depois, cada um na sua área fala o dialecto que entender. são, são logo vinte. por aquilo, aquilo é uma salada russa autêntica. é difícil de compreender uns aos outro, a não ser através do tétum.. hum, hum, hum. eh, eh, então mas diga-me, por exemplo, antigamente, naturalmente o português não seria falado por todos. eh, sendo assim, em que actividades é que era usada como língua de comunicação?. exacto. português não era falado por todos, porque, havia pouca oferta. havia muita procura da parte dos timorenses em aprender o português, mas a oferta muito pouca. e então, a língua p[...], a... portuguesa limita-se às classes [...], funcionário público, ah, às missões, eh, às Forças Armadas, à classe comercial de Timor e... aqueles que estão nos centros urbanos, como Díli, Baucau, ou de centros de concelho, esses procuram falar português, mas a população timorense que está na montanha, eh, o portuguê[...], ele não tem muito acesso porque não há escolas, e além disso, eh, o acidentado do terreno não facilita mesmo, ah, a deslocação de pessoas para... escolas. porque as escolas são muito afastadas da zona. tens que caminhar aí quatro ou cinco dias para ir até uma escola. portanto a dificuldade está em, eh, oferecer o ensino ao povo que tem a s[...], fome de aprender português.. o, o padre Francisco lembra-se de como era ensinado o, a língua portuguesa?. bem, eh, a língua portuguesa em Timor, eh, aquilo, aprendemos à martelada. porque o povo gosta de aprender e então, os professores aproveitam a oportunidade para fazer uma, uma aprendizagem muito acelerada. eu, o meu caso pessoal, eu estive num colégio de jesuítas, o colégio mais antigo de Timor. eh, já foi fundado do século passado pelo... bispo Medeiros.. hum, hum.. está numa área completamente inacessível. só vai carro para lá uma vez por ano. ou o carro do governador, ou do pu[...], bispo, e é completamente isolado. mas, porque aquele colégio é um colégio pioneiro, e tem uma educação espartana, o ensino do português lá é muito proveitoso. toda a gente manda filhos para lá. chegamos lá, por exemplo, eh, o primeiro dia de aula é proibido falar, os alunos, cada um, é proibido falar a su[...], o seu dialecto. para quem sabe português, começa logo manejar o portug[...], quem não sabe tem que ficar em silêncio durante meses, porque havia réguas, eh, aquilo são quatro[...], ah, quinhentos alunos internos, organizados em castelos da Mocidade Portuguesa, havia réguas, que, ah, mais de vinte réguas a caçar quem fala dialectos. por forma que, através da régua, os alunos, ah, tinham que aprender à força, aprender à força.. é um método muito persuasivo, ó padre Francisco.. é um método, mas muito deu resultado. e as pessoas depois de três ou quatro meses acabam por falar português, e no fim do ano, eh, dominam o português. em relação a outros colégios, esses falavam muito melhor. e eu estive nesse colégio quatro anos, eu sei como é que o método rendeu, e depois, mais tarde, fui como superior, director desse colégio, eu não mudei a regra. eu impus, eu continuei com a regra da régua.
Guine-Bissau
Bissau - Bissau
M
18
1995
bom, eu creio que os jovens agora... têm mais... acesso à informação e têm mais acesso a poderem, ah, que, ah - como é que se diz? - ah, se cultivarem... a eles próprios sobre... tal, eu penso que a nossa geração já tem, já, já vai crescer.... hum.. com uma... mentalidade já mais forte. hum.. mais, coiso, sobre aquilo que... pode se[...], pode, pode ser a democracia, não é,. hum.. porque eu no, no meu ponto de vista, eu acho que a democracia na Guiné-Bissau não devia ser uma democracia importada.... hum.. de modelos, coiso, tínhamos de fazer uma democracia que tem a ver com a nossa maneira de sermos como povo, não é, com a nossa maneira de vi[...], de, de, que cada povo tem as suas tradições, tem as suas, que tem só uma, só uma maneira de pensar, é caracterizado por um, sua maneira de comportar-se, ham?. hum.. eu penso que isso é que devemos focar. ah, nós os jovens agora temos mais acesso ao ensino, temos mais acesso à informação. eu acho que estamos a levantar com uma nova mentalidade, não é, porque... já começamos a perceber coisas, já temos mais acesso, ah, pois enquanto que aquela geração dos nossos pais. hum.. não, eles, eles que viveram... oprimidos, não é, não tinham aquela liberdade que nós temos hoje. nós hoje podemos dizer que vivemos felizes porque, graças a Deus, eles, vocês deram-nos a independência, não é, nós agora temos isso tudo devido a vocês. mas, ah, por enquanto n[...], nós todos estamos um bocado. desorientados.. desorientados, não é, porque nós não conseguimos ainda nos situar bem, para definirmos comos um povo democrático. ok, eu... sinto-me bem quando dizem que as eleições correram bem, não houve isso, não houve aquilo, não é, agora o que eu acho é que o povo deve 'conscienciar' que nós devemos trabalhar para fortalecer essa democracia, para desenvolver o país. porque democracia também é, eu acho... que ao mesmo tempo é sinal de desenvolvimento.. hum.. e... o nosso povo ainda não tem uma noção de que, de, do trabalho, porque... as pessoas aqui foram educadas trabalhar só um período, e depois à tarde vai-se embora, depois também o povo, o povo perdeu esperança no Estado, perdeu confiança do Estado porque trabalha um ano, dois, fica sem receber, e isso são problemas sérios que... o governo deve... debruçar-se.. e acha que num Estado... que deve, um Estado que deve aos trabalhadores um, o salário de... dois anos, acha que a democracia pode funcionar neste Estado?. claro que não pode, porque.... e qual é a solução para, para esse problema?. em primeiro lugar, eu acho que o Estado... que não paga o seu povo durante dois anos, perde a sua autorad[...], auto[...], autoridade perante o povo. porquê? porque... não vai ter direito de exigir nada ao povo. em primeiro lugar, porque... o povo trabalha, mata-se todos os dias a levantar para ir trabalhar para o Estado e o Estado não... dá nada em volta, em troca. o povo, quê, pode acontecer com uma pessoa, por exemplo, eu trabalho para o professor.. hum.. trabalho um mês e o professor não dá o meu salário, trabalho dois, se não começo a reivindicar os meus direitos. hum.. agora se, o professor não pode exigir nada porque o professor não me paga. nesse caso eu tenho o direito de fazer aquilo que me dá na cabeça.. hum.. porque ninguém me pode exigir nada; isso é que acontece.. hum.. o Estado, o esta[...], o Estado fica numa situação... de inferioridade perante o povo.. hum.. porque não, não, não, não vai poder re[...], exigir nada ao povo.. hum, hum.. porque se o Estado vem 'ah! nós temos que fazer isso.' o povo vai 'não, não vamos passar a fazer nada porque vocês não nos pagam'.. pois é!. então aí tudo tem, tu[...], tu[...], tudo fica parado. nada... mexe. e ninguém, quê, o povo perde a confiança no Estado.
Guine-Bissau
Bissau - Bissau
F
16
1995
pratica-se com o consentimento do país se essa... pessoa que vai fazer é muito nova, como uma pessoa assim de dezasseis anos, se os pais acharem que ela é muito nova para dar luz àquele bebé, então vão a uma clínica, legalmente, ou hospital, fazer o aborto.. hum.. mas fazem um aborto legal. há também quando uma pessoa fica grávida, e há qualquer distúrbio dentro de, dentro do útero, quer dizer, a criança pode nascer com qualquer anormalidade, ou a criança pode prejudicar a mãe durante o parto.... hum.. aí o aborto também pode ser feito, mas legal.. hum.. mas só que cá na Guiné os jovens praticam o aborto clandestino. esse aborto traz consequências graves ps[...], ah, para a pessoa, fisicamente e psicologicamente.. hum.. a, a, a causa dos aborto clandestino, eu acho que... é, deriva dos pais, porque às vezes uma pessoa fica grávida dentro a casa dos pais e tem o medo de ficar com aquele gravidez.... hum.. ah, para os, ah, para que os pais não possam descobrir e depois expulsarem a... pessoa para a rua.. hum.. e a, e aí eles ficam com medo. recorrem ao aborto para os pais não de[...], descobrirem-nos, e expulsá-los da casa.. hum.. há outra razão também que... fazem os jovens fazer um aborto que é - como é que eu posso dizer? - o medo ao, a, a, o pânico perante as dificuldades económicas. hum.. e pelo, e o incómodo que a criança traz.. hum.. ah, porque se a pessoa tiver as condições económicas suficientes, acho que nem era preci[...], é que não vai ser preciso fazer o aborto.. hum.. porque vai ter tudo o que é possível, o que, tudo quanto mais para agradar àquele ser humano. e acho que a situação económica também influencia muito. hum.. nos abortos. eh, há também, a, a juventude também posso dizer que influencia, porque uma pessoa achando que é jovem. hum.. para ter filhos, ah, ao ficar grávida faz o aborto, com, fica com receio de estar com a gravidez perante os colegas den[...], dentro da sociedade. então, ah, é uma das razão que leva os jovens a fazer o aborto. eh, não pensam, ah, os jovens deviam pensar antes, ter uma consciência do que vão fazer. ah, antes de ter as relações sexuais, deviam pensar antes, porque quando uma pessoa está a praticar um, algo, deve esperar a consequência.. hum.. eh, a pessoa também deve estar, ah, estar na altura de - como é que posso dizer? - estar na altura de.... assumir as responsabilidades.. de assumir a responsabilidade. mas só que os jovens cá na Guiné não pensam no que vão fazer. e quando o fazem, a consequência aparece, então eles ficam assim, ficam sem saber o que fazerem. então eles não pensam que o, a, não sabem que um aborto traz consequências graves, porque uma pessoa fazer aborto clandestino, ah, pode aparecer a perfuração do útero, que a pessoa pode ficar estéril o resto da vida, não ter possibilidade de gerar os filhos e também, se o aborto não for feito, ah, não for feito duma maneira, duma ma[...], não for feito.... conveniente.. conveniente, ah, aparece aquelas hemorragias grave que pode levar a pessoa à morte.. hum.. também aparece a esterilidade. e isso são as coisas, são as coisas, ah, são as consequências drásticas, mas o jovem cá da Guiné não pensa nisso.
Guine-Bissau
Bissau - Bissau
M
45
1995
portanto, eu... sou da opinião de que devemos reflectir e é o momento para se reflectir de facto um pouco sobre a situação da mulher. hum.. ah, particular, bom, bem, particularmente da mulher guineense, se bem que ela se, portanto, a situação da mulher guineense não é distinta universalmente da mulheres, das mulheres do terceiro mundo, dos países em desenvolvimento. hum.. em que o que se constata é que há uma, há uma pouca preocupação acerca da distinção do gé[...], ah, entre os géneros, portanto, masculino feminino. hum.. em que à mulher africana cabe grande, um grande quinhão de responsabilidade. quinhão de responsabilidade que se prende com o seu papel como produtora; efectivamente a mulher africana, se quisermos e, portanto, olharmos, aos estudos e aos levantamentos que foram, que têm sido feitos, constata-se que oitenta por cento de, da mulher e do seu tempo é ocupado com preocupações, portanto, ah, no que respeita, primeiro, ao seu papel como reprodutora.. hum.. portanto, ela que gera, portanto, a força do trabalho. hum.. cuida dela, ah, portanto, dessa força do trabalho de tenra idade até de facto pô-la em condições de reproduzir. e quando vai-se reproduzir nas sociedades africanas, é à mulher que cabe o maior, uma maior responsabilidade.. hum.. vamos encontrar, e hoje por exemplo, num contexto particular da África subsahariana, o que se constata é que, portanto, os estudos feitos dizem que dois terços de todo o trabalho humano produzido na África subsahariana é feito pela mulher, em que ela, eh, usufrui apenas de dez por cento dos rendimentos por ela gerados, e um por cento das riquezas de todo o universo, de todas as riquezas do universo à mulher cabe apenas um por cento. bom, vindo, voltando à África... subsahariana onde a Guiné-Bissau, portanto, se, geograficamente se enquadra, vemos que ela se ocupa da agricultura e de toda a produção, portanto, a produção subsaha[...], da África subsahariana é se[...], fundamentalmente, uma produção de subsistência, da base à agricultura, em que a mulher é ela a produtora. sendo ela produtora, detém uma responsabilidade que o, nós podemos dizer, e na expressão aqui da, da Guiné-Bissau, dizemos que ela é a nossa 'bemba', que significa que ela é a reserva da nossa subsistência. é da produção das mulheres, principalmente produções agrícolas, desde, aqui na Guiné-Bissau, a produção fundamental que é o arroz, é o... alimento fundamental, é produzido pela mulher, e todos o, a maior parte dos legumes, portanto, consumidos, nós percorremos todo o país, encontramos nos campos apenas mulheres. praticamente só mulheres, algumas, não dizemos que os homens não, não se ocupem também da agricultura, mas por, normalmente para fazerem o trabalho de amanho, digamos, de preparação, apenas, pois o... resto, portanto, o segmento da produção, desde a, da se[...], da, da sementeira, de lançar as sementes, depois cuidar, ah, ah, portanto, evitar a, cuidar da, do combate às pragas que possam danificar a cultura, a colheita, a transformação, portanto, o, o amanho do, do arroz, por exemplo, que tem bastante trabalho, t[...], e um trabalho mesmo... pesado, portanto, no sentido em que é ela que vai pegar esse arroz e mó[...], e pila. pilar o arroz significa, portanto, qualquer coisa... comparável a um trabalho que normalmente com um equipamento simples que nós, portanto, vemos e que hoje poucos estão substituindo, mas que é um trabalho árduo também feito pela mulher.. hum.. e as mulheres assumem diversos papéis nas so[...], nas sociedades africanas e na nossa, aqui na Guiné, deve ser ela, portanto, cria os filhos, educa os filhos, vai cuidar da alimentação dos filhos e, em geral, o mais, o mais, ah, digamos chocante, é que ela também, ah, b[...], tem que garantir a subsistência dos restantes membros da família.. hum.. inclusivamente famílias alargadas em que temos, eh, portanto, desde sobrinhos, sogros, ele, dessa mulher, enfim, cunhados e familiares que, como sabemos, eh, as famílias africanas são bastante alargadas, essa responsabilidade cai sobre os ombros da mulher.
Guine-Bissau
Bissau - Bissau
F
17
1995
estou a determinar doenças contagiosas e infecciosas. por exemplo, uma das preocupações dos povos em geral, dos povos em geral é a SIDA. a SIDA também fala-se aqui em Guiné-Bissau muito. bom, nem toda a gente ou - pesquisa que eu estive a fazer -, nem toda a população está, ah, informado sobre a doença, a SIDA.. hum.. muitas pessoas ainda tem que ser informado.... hum.. no âmbito de saber o que é que é a SIDA.. hum.. a SIDA é uma doença, sabemos todos que é uma doença muito contagiosa.... hum.. e perigosa, mas antes de começarmos a prevenir as pessoas contra um meio de transfusão da SIDA, devíamos fazer um largo conhecimento.... hum.. no âmbito de... dizer às pessoas o que é que é a SIDA. porque cá na Guiné só existe diferentes etnia.. hum.. então os, o pessoal de saúde, para chegar por exemplo num determinado etnia. hum.. e dizer só a SIDA, eles não vão saber o que é que quer dizer com isso.... sim, a gente sabe.. porque a maioria são os analfabetos, não sabem ler, então eles não vão fa[...], saber o que é que quer dizer a SIDA. então, antes de começar assim a falar de SIDA, devíamos fazer um tipo de, um tipo de ajuda.. dar informação?. dar informação, exacto. informar a população. hum.. não é, conhecer como é que eles vão entrar nesse meio. hum.. para dizer o que é que quer dizer a SIDA, o que é que a SIDA faz. a SIDA é uma doença que ainda não tem cura.. hum.. está a ver, por exemplo, as pessoas aqui em Guiné-Bissau, a pessoa do sector da Guiné-Bissau, estão mais informado sobre a SIDA. hum.. do que por exemplo fora do país. hum.. Bafatá, esses zonas. hum.. do leste e... a pessoa cá do centro da Guiné-Bissau estão mais informado sobre o que é que quer dizer a SIDA.. hum.. como é que se pode transmitir a SIDA.. hum.. o que é que a SIDA pode fazer, como é que se pode prevenir a SIDA.. hum.. a SIDA é uma doença ainda que não tem cura.. hum.. embora estamos a fazer largos estudos para ver se consegue, mas ainda não tem cura, sabemos qual é o perigo. a principal causa da SIDA é a morte, infelizmente. então, temos, resolvemos fazer assim um, uma escala. muitas pessoas dizem que a SIDA pode-se transmitir através de beijo, não é verdade, através de trocar as roupas, se por exemplo tens SIDAs - Deus queira, hem? - tu tens SIDA, eu visto as tuas roupas eu vou também apanhar SIDA, através de colheres, comer, comer ou dormir na mesma cama. mas outras pessoas sabem que a SIDA não se transmite assim. a SIDA trans[...], transmite através de transfusões sanguínea, seringas, através de relações sexuais, ah, e através também de outra coisa, já não me lembro.. qualquer contacto com o sangue.. quando, qualquer contacto, sim, com o sangue, pode-se transmitir a SIDA. isso que[...], isso quer dizer se o sangue tiver HIV1. hum.. ou HIV2 pode-se transmitir a SIDA. então muita das etnias, ah, existe aquele problema de rel[...], sexo, não se fala de sexo. isso quer dizer sexo é um tabu.... hum.. não se deve falar.. hum.. que é uma coisa sagrada e assim. então tu para chegares lá para informar a população que a SIDA é uma doença contagiosa, e pode-se transmitir através aquilo, tu não vais ter um meio de lhe explicares, se não saber a base, como entrar.... hum.. aq[...], aquela etnia.
Guine-Bissau
Bissau - Bissau
F
19
1995
penso que é importante, eu gosto mesmo. penso que, pronto, quando eu falo da cultura, quando eu escolhi esse tema cultura, eu refiro mais a cultura cá em Guiné. cá em Guiné é que ele não existe. eles dizem cultura mas não sabem bem a, a definição dessa palavra 'cultura'.. hum.. penso que cá têm poucos meios, e nem só, não ajudam a ter um pouco disso também cá. penso que foi esse o motivo que eu escolhi. penso que devia haver mais cultura. hum.. cá.. e quando diz-me haver mais cultura está a pensar, por exemplo, em quê?. refiro-me a tudo - cinema, teatro, jogos - tudo, que faça parte da cultura.. hum. portanto, eu às vezes quando... vejo na televisão, vejo passar a música, que se calhar não faz parte da nossa cultura. o que é que me diz?. eu percebi perfeitamente.. dá para, dá melhor cultura?. está a referir-se, penso que a música também faz parte, mas as músicas por exemplo às vezes que passam na televisão penso não têm nada a ver. estão mais a imitar, a tentar a imitar a Europa e o resto do mundo, mas não a entrar mesmo em África, a ver que tem alguma coisa de bom. sempre música de África, penso que devia sair mais para fora, mas não, está muito dentro e não, não tem, não, assim não, não vão longe com aquilo ficar sempre cá dentro, as pessoas de fora têm que ouvir, saber que cá também existe ess[...], a, essa cultura, a música.. mas, se calhar o problema é dos meios. não te[...], não terem meios.. às vezes é meios. mas às vezes também cá não tentam, não é, não, não tentam chegar.. ou se calhar a política.. pois a política às vezes. pronto, sim, é mais a política mesmo, que é uma desorganização total.. hum.. não tem uma organização cá em Guiné.. então, o que é que acha que se poderia fazer, ah, para o bem da cultura guineense?. penso que devi[...], deveriam criar meios, tent[...], pronto, como eles não têm meios - escolas, essas coisas - para ensinar mais, há pessoas que por exemplo querem ser cantores e essas coisas. não conseguem ser porque, pronto, os pais em casa dizem 'oh! tu vais ser aquilo cá, aquilo tu não ganhas nada, para quê queres aquilo? faça mais outra coisa'. perguntas uma pessoa 'o que é que tu queres fazer? qual é... a cultura, a tua cultura?' uma pessoa diz 'ah! eu não, eu não sei te dizer a cultura propriamente'. cá em Guiné aquela palavra... hum.. não é exprimida publicamente, nem, nem se usa.. hum.. às vezes nem as pessoas sa[...], sabem o que é que é a cultura.. hum.. penso que é.... e [...] noutros tempos, se calhar ness[...], nessa altura a Berta não tinha ainda nascido, temos, eh, não tinha era nascido, falava-se de alienação, e tinha mais a ver com, já se calhar valores do colonizador em detrimento dos nossos valores, e acha que... também se coloca este problema actualmente?. penso que sim. cultura, pronto, a cultura que existe cá, se, se chegar na Europa, por exemplo em Portugal - eu tomo mesmo um exemplo em Portugal, eu já estive lá - podes perguntar a um, a um estudante de qualquer lic[...], qualquer liceu, alguns... não sabem. perguntas 'qual é que pensas que é a cultura mais utilizada em Guiné-Bissau?' até te podem dizer onde é que fica a Guiné-Bissau. não sabem, muito menos a cultura que lá se exprime e se usa.. hum. está bem. então temos muita coisa para fazer. mas o que é que vamos fazer para, para o bem da nossa cultura?. penso que o Estado devia pensar numa parte também nesse, nesse termo, na cultura e não pensar só na entrada de, pronto, mercadorias, que devia produzir e tentar criar... lugares para fazer essa cultura ir mais à frente, porque assim, oh! penso que não vamos a nenhum fit[...], sítio. Guiné nem vai para a frente, nem vai para trás, está intacto; está no sítio.. [...]
Portugal
Beja
F
56
1997
eh, havia aqui uma base... alemã, não era?. [...] sim, a base, eh, número onze.. hum, hum.. agora . e acabou?. acabou. agora é portuguesa.. hum, hum.. é... sim.. e isso trouxe, acha que isso trouxe uma grande, o que é que essa base, dava alguma vida especial a Beja?. sim, eh, dava. dava, sim, sim. e, a alemã, prontos, eles, eh, tinham, eh, uma parte aqui de, das... vivendas e assim, que eles eram muito cuidadosos. portanto, tinham tudo impecável. eles não se importavam de se levantar às oito, ou às, às sete da manhã, eles limpavam aquilo tudo, porque têm muito, muito verde, que é mesmo, aqui o bairro alemão.. hum, hum. pois.. e agora não. os nossos estão ali, eles são um bocadito des[...], não. desleixados.. sim. são. porque nota-se o verde, embora esteja... verdinho, mas, eh, não há aquele cuidado de limpeza, das árvores, eh, mesmo do chão, eles. hum, hum.. varriam aquilo tudo, estava impecável.. e. por acaso já, há montes de tempo saiu um artigo no jornal sobre isso.. sobre este assunto.. sobre esse assunto.. e esses alemães que estavam cá, eles misturavam-se com a população local?. sim. embora, prontos, não eram assim muito, mas sim. eh, eh, portanto, frequentavam bares, as discotecas, eh, a piscina, e assim. sim. sim.. eles até eram simpáticos.. sim.e aprendiam o português, eles?. pois. as pessoas que sabiam, não é, . ham, ham.. [...], bem, falar com eles transmitiam, portanto, o português bem e eles, eh, o alemão.. o alemão.. exacto.. e, não chegou a haver casamentos mistos, assim, entre alemães e...?. eu acho que ainda houve, sim, ainda houve para aí uns casamentos, que elas depois abalaram quando eles foram embora.. foram embora.. sim.. [...]. abalaram. eu, por acaso, conhecia uma rapariga que tinha casado com um alemão, mas nunca mais, eh, a vi, por cá. ela abalou então. pois, deve ter ido para a Alemanha.. sim, eles depois venderam as mobílias, porque as mobílias deles não são tão bonitas como as nossas.. pois.. e levaram, portanto, algumas coisas. de cá.. de cá, de mobílias, porque as nossas mobílias são muito bonitas. as deles é aquele tipo liso. hum, hum.. portanto, linhas direitas, uns móveis muito grandes, e eles. sólidos, não é?. exacto. e eles acabaram depois por vender. e faziam aí uma venda, que era muito engraçada, de coisas já usadas deles.. hum, hum.. e era uma feira que eles faziam. e as pessoas iam ali, compravam, porque eram roupas, eh, vendiam rebuçados, coisas assim.. hum, hum.. e era muito engraçado.. pois.. uma vez no ano. faziam eles ali.. e mesmo a nível do comércio, devia, deve. sim, eles, eles da[...], portanto, davam muita vida à cidade. sim, isso é verdade. eh, compravam muita coisa e, eh, portanto, as pessoas diziam 'é xis dinheiro', eles, era o dinheiro que eles davam. enquanto nós, parece que se. pois.. que regateamos um bocadito.. um bocadinho, claro.. é isso.. sim, mas na Alemanha não é hábito . pois. . regatear.. é isso.. é aquilo, é aquilo.. é. exacto. . hum, hum.. e, prontos, e as pessoas que se... aproveitavam, às vezes. claro.. até eram um bocadinho mais.... pois.. mais que aquilo que era. é assim.. pois. mas enfim. olhe, eles ainda estiveram cá muitos anos, não foi?. ainda estiveram. eu não sei, prontos, mais ou menos, eh, mas ainda foram uns anos bons. hum, hum.. que eles estiveram. tinham bons carros, boas caravanas.... pois.. agora começava esta altura, assim, Maio, mais ou menos, eles lá iam, co[...], para a praia.. [...]. gosta[...], adoravam. pois claro.. a praia.. lá não há, não têm bom tempo como aqui.. mas eu acho que ainda há pouquinhos ali, no bairro alemão, mas ainda há uns quantos, pouquinhos. hum.. de alemães, mas ainda há.. ficaram.. porque às vezes vejo-os de manhã, portanto, as senhoras ali a passearem com os cães. hum, hum.. quando venho para a escola. e então penso que sim.. e, a nível de religião? eles normalmente não iam, com certeza, à igreja... católica.. pois, isso não sei muito bem, prontos, que se eles... iam, porque eu sou católica mas.... pois.. pelo pouco tempo que tenho. claro.. não consigo, prontos.. hoje em dia.... só... quando posso, ou quando alguém morre, e depois há a missa, portanto, por aquela pessoa. hum, hum.. e, e uma pessoa conhece e assim. claro.. pois. mas eu até penso que sim, que eles eram pessoas para, para irem assim também à missa, não sei, mas isso.... porque, normalmente eles são, têm, são c[...], são cristãos, mas não são católicos.. pois. é isso. pois. pois.. que eu tenho também ouvido... falar, sim.. têm... a sua própria, eu tenho, eu tenho uma prima que viveu aqui nessa altura, que era, o marido era militar - mas português, claro -. português.. e ela era professora primária, e viveram aqui muitos anos, em Beja.. ah, então foi ali no bairro alemão.. foi, foi.. sim. acho que as casas que são muito boas.. são. ela tinha uma boa casa.. acho que a construção, e tudo que é, prontos, que era muito boa mesmo.. [...]. eu não cheguei ali a entrar, mas, agora, há uma senhora que eu conheço, que está na escola superior agrária, que mora ali, portanto, o marido é tropa. hum, hum.. ali agora na base, e ela, eh, d[...], comenta isso. diz que as casas são muito boas.. hum, hum.. uma boa construção.. portanto, fizeram boa vizinhança, os alemães!. sim. sim, fizeram. [...], acho que nunca dei assim por conta de problemas com eles.
Portugal
Famalicão
M
68
1997
sabe que eu ainda lhe queria perguntar uma coisa. disse-me que, portanto, que praticou desporto. sim senhora.. durante anos, não foi?. sim.. eh, nessa altura, o desporto era encarado de uma maneira muito diferente. era encara[...]. relativamente, não é,. não ganhávamos nada.. não se ganhava nada.. jogávamos de graça e tínhamos isto: não havia iluminação nos estádios, como há agora. hum, hum.. íamos treinar sem relva, e como trabalhávamos, às sete e meia da manhã estávamos equipados no campo. no Verão, ainda é fácil. claro!. mas no Inverno, com aquelas camadas de neve e, como vinha a lama, e depois vinha a neve, nós a andar parecíamos que estávamos a andar em cima de cascalho. ficava vidrado. custava muito. mas tínhamos amor à camisola.. pois. era verdadeiro. mas era isto mesmo.. espírito desportivo, não é,. é. conheci grandes treinadores, Roberto Kell, que foi o famoso treinador dos violinos do Sporting, o doutor Eduardo Lemos, foi jogador da Académica, Cesário, que por acaso também no fim da vida dele, depois de abandonar mas que a gente de Famalicão nunca o abandonou, foi um treinador que f[...], esteve, esteve rico, mas dava tudo. e na hora que ele precisava nunca foi abandonado. e nós, os amigos de Famalicão, pusemo-lo aqui, quase de graça, vá, que ele tinha uma reformazita pequena, e depois conseguimos-lhe um lugar no lar. e foi lá onde ele faleceu. hoje tem, no cemitério, que é aqui em Santiago de Antas, que é esta freguesia, e ele está lá com um jazigo digno. hum.. de, daquilo que ele foi.. sim senhor. portanto, era o verdadeiro espírito desportivo nessa altura!. foi des[...], desportivo. quantas vezes, que, aquilo havia muita falha de dinheiro. iam os jogadores, claro que tivémos que ter um, jogadores, já naquela altura começou-se a fazer contratos, de argentinos, de espanhóis,. hum, hum.. mas, jogadores baratos. mas chegava-se ali perto do Natal, já não havia dinheiro para lhes pagar. e então como nós tínhamos um restaurante, fome eles nunca passaram. porque nós davamos sempre de comer.. hum, hum, hum.. além de jogarmos de graça, ainda alimentávamos os jogadores.. hum.. porque havia, havia muito gosto, muito, havia muita amizade, muito, eles nunca foram abandonados. e mesmo depois de irem embora, tinham sempre dinheiro, nunca ficaram ao abandono.. não acha que o, agora, o desporto é mais um negócio do que outra coisa?. isso é, é, eu para mim é pior que um negócio. é uma máfia.. ham, ham.. não há honestidade, e está provado e mais que provado que os árbitros que se vendem, porque eu sei de casos, é verdade, os árbitros vendem-se, os jogadores vendem-se, e não há aquela... espírito desportivo que devia haver. embora eles ganhassem, que eu sou de acordo que deviam ganhar.. claro.. ganham demais, é um erro. e quando eles dizem que o período de, de, que estão no auge e para ganhar dinheiro que é curto, mas esse, com essa, essa passagem que eles têm, só num ano que eles estivessem a ganhar, há operários que não ganham em toda a vida.. exactamente.. portanto, eles que não venham com essas desculpas. agora o que eles deviam era sabê-lo poupar, que eles esbanjam o dinheiro. o dinheiro é lançado fora. e eles só têm vícios e... isso é que está mal. porque m[...], há, há atletas que estão muito bem na vida, e mesmo aqui em Famalicão, aqui não conheço nenhum que esteja mal, que aqui as pessoas conseguiam sempre dar-lhes emprego, tinha, todos bem. não conheço nenhum que acabasse aqui na miséria. também as pessoas não deixavam. há um caso em Famalicão, foi dum jogador que foi irradiado, era o Francisco Pires, que veio do Benfica. foi um grande atleta, um jogador famoso. e há um suborno aqui no Famalicão, que é com o Oriental, que no jogo que vem aqui fazer. hum.. foram ter com ele e deram-lhe cinco mil escudos para ele se vender. e ele chegou ao presidente e, e foi-lhe contar. e o presidente disse 'olha, guarda o dinheiro e vai para o campo e joga'. o que é que acontece? ele foi para o campo e por acaso não conseguiu brilhar, porque estava com aquela, a pensar no, no que se passou, não é, e como não conseguiu jogar. o presidente, o Famalicão nessa altura perde o jogo e o presidente... divulgou o caso porque desconfiou que havia outro jogador que também estava vendido, mas que não sabia. a judiciária veio cá, irradiou logo o Francisco Pires, foi irradiado, que era - para mim era o melhor jogador português naquele tempo - foi irradiado, e mesmo assim as pessoas de Famalicão, dele irradiado, deram, arranjaram aqui uma pensão, pagavam-lhe - era o presidente o doutor Eduardo Lemos - dava-lhe os medicamentos, que ele depois adoeceu do, dos pulmões, e ele, como era assim meio, um pouco, um pouco da vida nocturna, casado, foi para Lisboa, para jogar nos Corporativo dos Correios, CTT. há um maior espírito de ligação entre as pessoas.. há. há aqui um senhor, que foi das f[...], maiores fortunas que temos aqui em Famalicão. o pai dele deixou-lhe uma fortuna. era fornecedor, era, tinha... carnes de porco, e ele fornecia o exército - isto já há quarenta anos - e o pai faleceu e os filhos ficaram todos ricos. mas j[...], eles julgavam que o dinheiro que nunca acabava.. pois é.. iam ao casino todos os dias, e eram naquela altura três irmãos, levavam dez contos por dia, cada um para jogar. isto há quarenta anos, veja o que isto era. e eles julgavam que nunca mais se acabava. abandonaram o serviço. o que é que acontece? empregados deles, que naquela altura andavam ali de socos e... hoje têm aqui uma fortuna doida, no mesmo isto a que se estabeleciam, lindamente, e conseguiram fazer fortuna. e eles, estão todos aí abandonados, a viver de esmolas. mas mesmo assim, e esse... - que é solteiro, deve ter agora sessenta e oito anos - está no lar dos idosos, porque as pessoas que o conheceram meteram-no lá - no melhor que há é ali - não lhe falta nada. e quando há festas, os amigos lá o vão buscar, quando é o dia dos amigos de Famalicão e isso - e ele vive como um senhor, embora não fosse aquele senhor onde ele chegasse - que ele já nessa altura não deixava ninguém pagar nada. nós íamos com ele fosse para onde fosse - hoje há pessoas aí com fortunas doidas que, à beira deles não eram nada. e todos viveram à custa dele. alguns reconheceram-no. há que, sempre aquele que... vai dando, ainda podia dar uma esmola grande mas vai dando p[...], lentamente, pouco.. pois.. é por isso que as pessoas não olhando por a[...], por aquilo que os outros lhe deixaram, podem acabar mal, é sempre por causa deles. ah, pois.
Portugal
Faro
F
22
1996
mas, já pensou que é dif[...], não acha que é difícil, nos dias que correm, para uma mulher, ah, ser... profissional de uma coisa qualquer, e a sua vida de, pessoal? combinar as duas coisas. . tem que começa[...], para já, hoje em dia já é bastante diferente do que era há uns anos atrás. hum, hum. . e tem que ser mesmo assim porque acho que hoje em dia tanto as mulheres como os homens realizam-se profissionalmente. hum, hum. . e a ligação das duas coisas, sei lá, é uma coisa que vem depois. primeiro vem a profissão, o emprego, o futuro. depois tem que vir o resto.. hum, hum. diz que tanto as mulheres como os homens realizam-se profissionalmente. no entanto, eh, para a mulher o realizar profissionalmente implica uma dupla... tarefa, não é, porque em casa normalmente é a mulher que trabalha... . ah, mas isso não pode continuar assim, pelo menos no mes[...], no meu ponto de vista. porque, se ambos trabalham fora de casa também têm que trabalhar os dois dentro de casa. . hum, hum. . por isso não pode ser só da parte de uma pessoa, o trabalhar em casa. . e está habituada a ver isso à sua volta, ver o homem trabalhar em casa? . não. por v[...], por ver exactamente o contrário é que eu penso assim. . hum, hum. e acha que o homem pode facilmente - a mulher aprendeu a fazer tarefas que até aqui há uns anos atrás eram só do homem, não é, . hum, hum. . acha que o homem facilmente pode entrar nas tarefas que eram, normalmente, d[...], especialidade da mulher? . tem que se ir habituando aos poucos. porque há homens que quando querem fazem as mesmas coisas que uma mulher, em casa. quando eles não querem é que já é pior. mas acho que sim. acho que aos poucos conseguem. e mesmo, não digo, por exemplo, uma mulher pode cozinhar, não é, mas há outras coisas para além de cozinhar que se podem fazer em casa. e acho que é principalmente isso. . eh, na sua opinião, quais são essas tarefas, concretamente, que são... mais fáceis para o homem fazer? . estar sentado a ler o jornal, não. . sim, mas isso não. . não sei, mas, por exemplo, a partir do momento em que se constitui uma família . sim. . em relação aos filhos. hum, hum. . não é, por exemplo, uma mulher pode faze[...], pode fazer o jantar, o homem pode ir lavar a loiça, pode ir levar os filhos à escola, também pode vesti-los . hum, hum. . pode, portanto, todos, as tarefas, não é, que podem ser a fu[...], a função duma mãe, podem ser função de um pai também. . acha que um homem, acha que um homem facilmente dá, eh, banho a um bebé recém-nascido, por exemplo. não. . a escorregar por todos os lados? . não, mas... acho que é uma coisa que... tem que se ultrapassar. por exemplo, eu conheço pesso[...], conheço homens que dizem que não, que não, que não, mas já os vi depois conseguirem fazer isso. . hum, hum . têm é que ultrapassar a barreira. é preciso, eu acho que é... mais a questão... de força de vontade . hum, hum. . do que, o acomodamento é que leva a que não façam nada. . hum, hum. por exemplo, pegar num ferro e engomar a roupa. acha que o homem facilmente consegue ter des[...], paciência, mentalidade para isso? . nem por isso. nem por isso, mas... eu também não tenho . ah! bom... . pois. não, acho que as coisas podem ser divididas. acho que há coisas que se calhar agradam mais a um e outras que agradam mais a outro. . hum, hum. . e aí, depois tem que se resolver alguma coisa. comigo já é assim, quando vou para algum lado não, não dá hipótese, tem que ser. . pois. ma[...], mesmo na, nos casos em que as tarefas são compartilhadas . hum, hum . eh, normalmente é a mulher que toma a, o leme da casa e é q[...], é a mulher que tem a preocupação, o que é que se vai fazer para o jantar, etc., não é, . sim. muitas vezes é, mas, é o que eu digo, eu acho que isso se parte de um princípio, quando se, quando se toma a decisão de viver em, em conjunto, as coisas têm que tomar um rumo desde o primeiro dia, porque, se a mulher começa a tomar o rumo da casa e depois passado cinco ou, só, ou dez anos é que decide que o homem tem que trabalhar, aí... as coisas já vão um bocado mal. acho que é uma coisa que tem de partir do princípio. se não partir desde o princípio, não sei se dá muito resultado. . bom, isso que me está aí a dizer faz pensar que olha para... a relação do casal como uma coisa muito racional, muito programada, logo à partida. . não. não, não é a questão de ser programada, só que, não, não acho bem que, prontos, quando o homem trabalhava só e a mulher estava em casa, aí até, até era justo que quando o homem chegasse a casa quisesse descansar mais. . hum, hum. . agora, a partir do momento em que uma mulher trabalha tanto, mais ou menos, do que um homem, não vejo justificação nenhuma para um chegar a casa sentar-se e o outro trabalhar. . e tenciona definir assim as coisas com o seu namorado antes de casar? . ele já sabe o que é que eu penso. . já sabe? . já. . e, e imaginemos que ele lhe diz 'ah, tem paciência, mas eu... lavar louça e, é coisa que eu não faço'. . ele já lava. já lava. . já lava. . já. ele, por acaso, ele agora até, ele já dá aulas e, portanto está a morar sozinho e as vezes que eu tenho ido lá passar fim-de-semanas, faz o jantar, lava a loiça, arruma a casa, por isso está a ficar bem treinado. . portanto, acha que não vai haver... problema. . penso que não. penso que não. mas também não sei se vou pensar casar com ele. ainda me falta tanto tempo. . ah, é? . na[...], eu para mim . ainda falta tanto tempo para quê? . porque... sem ter a minha vida profissional definida, sem, sem saber que me posso sustentar a mim própria, não é, na, na altura do casamento e se resolver, por exemplo, sei lá, pode acontecer tanta coisa, eu tenho que me sustentar a mim própria. não po[...], eu não entro num casamento a depender de outra pessoa. por isso, até chegar essa altura não. . estou a ver que é uma pessoa muito racional. . um, nesse aspecto, um bocado. talvez por causa das coisas que eu já, já vejo à minha volta, não é, . hum, hum. . tanto na minha família como em pessoas que conheço. e, prontos, é assim que eu quero, eu não posso dizer que não me pode acontecer outra coisa... . hum, hum. . mas, é o que eu espero.. claro. mas a pessoa pode-se sempre enganar. mas não acha que, que na, na relação entre as pessoas deve haver também um certo romantismo?. sim, mas uma coisa não exclui a outra.
Portugal
Beja
M
41
1997
quer dizer que o problema da reforma agrária deixou marcas profundas, no Alentejo.. deixou, deixou. deixou, sim, sim, sim. deixou. deixou e, pronto, eh, hoje reconhece-se que... possivelmente o caminho que se seguiu não foi o melhor, porque, inclusivamente, os trabalhadores não foram os mais beneficiados. eh, a terra, pronto, em meu entender e daquilo que conheço, acabou por ter uma exploração mais activa, e racional, portanto, havia muita terra abandonada, começou a ser, eh, trabalhada, e havia um uso abusivo, com a plantação de cereais, que de algum modo também começou a ser... repensado, e começou a faz[...], começaram a fazer-se culturas de uma outra dimensão, não é, deixando os pousios, fazendo culturas rotativas, enfim, digamos que houve uma gestão mais racional da terra. de qualquer das formas, houve... aqui questões político-partidárias, eh, havia interesses por trás disso, os trabalhadores continuaram a trabalhar com investimento, com afinco, enfim, com, com dedicação à terra, que no fundo era isso que eles tinham. hum, hum.. feito sempre e sabiam fazer. e até gostariam, e gostavam de fazer. eh, no entanto houve alguém que tirou daí dividendos, não é, e as coisas acabaram por, por dar dividendos a esses outros que estavam na rectaguarda, e aqueles que trabalhavam efectivamente a terra não melhoraram a sua... forma de estar na vida, a sua qualidade de vida.. o que me está a dizer implica que eles deixaram de ser explorados por uns para passarem a ser explorados por outros.. é um bocado, é exactamente isso. acho que sim. acho que foi um bocado isso que aconteceu.. hum. hum.. foi um bocado. sim, sim. aliás, depois quando foi, quando se procedeu à entrega das reservas, das reservas de terra. hum, hum.. aos p[...], aos antigos proprietários, verificou-se que muitos trabalhadores se colocaram imediatamente do lado dos proprietários, porque... tinham pelo menos a garantia de ter o ordenado ao fim do mês, não é, cumpriam com um conjunto de determinações e, ao fim do mês, portanto, havia uma maior estabilidade no seu percurso de vida, e no seu trabalho. na situação anterior, portanto, era uma grande agitação, toda a gente, de algum modo, mandava e afinal ninguém mandava, eh, cometeram-se muitos erros por falta de, dum plano de organização, e, eh, naturalmente havia alguém que estava por trás a receber e que às vezes lhe falhava no final do mês, quando eles tinham que prestar contas no merceeiro e no padeiro e por aí fora.. hum, hum, hum.. sim, sim.. e, e, e os antigos, eh, latifundiários, ao recuperarem a terra. sim, sim.. eh, qual foi a reação deles em relação aos operários, aos trabalhadores que, que vinham de trás e...?. sim. de um modo geral foram bem aceites. de um modo geral foram bem aceites. eh, eram pessoas que trabalhavam, portanto, eh, gerações sucessivas foram trabalhando nas mesmas fazendas. portanto, houve uns que foram herdando a propriedade e houve outros que foram herdando o trabalho.. hum, hum.. hum? portanto, digamos que aquilo era, foi uma situação que passou de pais para filhos, e as relações que se estabeleciam já vinham, eh, de trás. portanto, havia, digamos que... implícito, no desempenho de uns e de outros, algum compromisso. hum.. que tinha a ver com, com o estatuto da família. . hum, hum.. portanto, havia, de algum modo, que dar, que dar resposta, em termos de respeito perante a situação, àquilo que a família anteriormente tinha... feito e tinha combinado e trabalhado. eh, cons[...], con[...], consta-se até que - isto é uma situação anedótica, não sei se a posso transmitir [...] se não.... com certeza.. um sujeito que, um patrão aqui do Alentejo que, eh, portanto, logo a seguir ao Vinte e Cinco de Abril, as terras foram ocupadas e ele... foi embora. eh, foi para o Algarve. e... regressava de vez em quando à, à terra, eh, não conseguia falar... com muitas pessoas porque, pronto, não era bem aceite, e então, quando lhe foi entregue a reserva, ele, eh, um dia falou lá com um dos f[...], empregados, daqueles mais antigos na casa, e disse-lhe 'ó senhor Manel, você, eh, devia de vir aí uns dias comigo para a praia, que era para saber o que a gente sofre na praia. porque esta gente daqui acusa-me toda de... passar dois meses na praia todos os anos. mas eles não imaginam o sofrimento que eu lá passo.' e então, 'oh, mas, mas venha lá então connosco, senhor Manel'. então, leva o senhor Manuel para a praia, põe-no ali deitado na areia de manhã até à noite, o homem coitado, branco como a cal, ao fim de dois dias já estava todo empolado. e então ele manda-o para a terra e diz 'olhe, agora vá lá dizer aos seus amigos o que é que eu me farto de gozar aqui todos os anos'. [...] isto, de algum modo ilustra a forma como, eh, enfim, as pessoas se relacionaram após a entrega das reservas, não é, que, houve uma aceitação grande, houve. houve, e houve entendimento, as pessoas aqui no Alentejo têm uma particularidade, principalmente as pessoas ligadas à terra. são pessoas que são muito honestas, têm uma forma de estar muito... radical. sim, sim . eh, faz favor então. . sim, sim.. sim, sim.. sim, sim.. boa tarde.. viva, dona Conceição.. diga.. sim, sim. já chegou aqui, eu já dei parecer favorável. portanto, eh, vai agora para o pessoal, é provável que... amanhã ou no outro dia receba a resposta. mas pronto, não há problema, em relação à troca.. não, não, não.. não, não. quem, quem va[...], quem, quando se ausenta deverá, eh, informar que... vai de férias nesse dia, não é, . exactamente, sim, sim, sim, sim.. pois. e é bom que isto conste no processo, não é, até para defesa das partes.. está muito bem.. não faz mal absolutamente nenhum. e pode preparar as suas coisas para essa data, as suas férias.. muito obrigado então. boa tarde. adeus.. pois, mas . mas. ah! dizia eu que, que as pessoas aqui, principalmente as pessoas ligadas ao campo, têm uma mais-valia enorme, pelo menos naquilo que eu conheço e... tenho tido a oportunidade de viver, são pessoas que têm uma grande dimensão humana, não é, são pessoas, eh, com uma grande dignidade, que, quando dão a sua palavra, eh, pronto, não há, não é preciso ir ao notário, não há... outro tipo de, de meios a que recorrer, porque as coisas são exactamente como as pessoas dizem, não é, e... aqui em relação à, à recuperação das terras por parte dos agricultores aconteceu um bocado isso, não é, as pessoas estavam de algum modo comprometidas com uma situação, elas o que queriam, na sua esmagadora maioria, era trabalhar, não é, era garantir um posto de trabalho, era, pronto, de algum modo dar uma vida mais digna aos filhos, e a preocupação deles era um bocado... essa, não é, por, trabalhar e, e, e ter garantias de continuidade no trabalho. parece-me que nunca houve aqui grande preocupação por parte dos trabalhadores de se tornarem proprietários, ou de, bem, de terem terra para si próprios, um bocado assim.. até porque a terra não, não era, não ficou para eles, não é, aqui?. sim, sim, sim, sim. pois. eh, pronto, hou[...], houve algun[...], houve zonas onde, onde a propriedade foi efectivamente... repartida. ham, ham.. e distribuída às pessoas.. nominalmente, às pessoas?. sim, sim, sim, sim. principalmente em zonas onde havia regadio. hum, hum.. onde através de uma pequena parcela de terra as pessoas podiam tirar uma rentabilidade. hum, hum.. maior. agora ao nível da grande propriedade, não. eh, e no geral, até, as pessoas não, não tiveram grande preocupação em. hum, hum.. em, houve uma altura em que foi be[...], permitido, ou possibilitado às pessoas poderem pedir nas estações agrárias um, uma reserva de, de terra, para exploração directa. e poucas pessoas diligenciaram nesse sentido. foram mais os agricultores que fizeram es[...], que andaram à procura desse.... hum, hum.. desse benesse, do que propriamente os trabalhadores. não houve assim uma grande... preocupação, nem anseio. hum.. pela terra.
Portugal
Landim - Famalicão
F
73
1997
o que eu gostava que me contasse era: como é que conheceu o seu marido? como é que isso aconteceu?. ele é que me procurou.. mas como é que foi? conte-me tudo!. ai não, ai nossa senhora, ai como é que hei-de contar?. ai não olhes para mim [...]. foi na romaria?. tu é que sabes.. eu como é que hei-de contar?. ora.... não foi na romaria que o conheceu?. olhe, foi à vinda da igreja. vinha da igreja. dantes a gente ia ao terço, às ta[...] - agora não há. ham, ham.. e ele vinha do terço e, e s[...], perseguiu-me, pronto.. eu, [...]. mas ele já a co[...], já a conhecia antes? ele já a conhecia antes?. não, isso não sei. a primeira vez foi à vinda do terço.. mas a, a senhora não o tin[...], nunca o tinha visto?. não senhor.. ah, foi assim?. podia até vê-lo, mas sabia lá.. não sabia quem era.. ia passear à montanha.. [...]. e então quando viu que vinha aquele rapaz atrás de si, o que é que pensou?. eu não pensei nada, ele é que veio falar para mim.. e o que é que ele lhe disse?. ai eu agora sei lá!. mais ou menos.. como ele entendeu.. a primeira vez não deu resultado.. atrás de mim vinha o meu pai. ham, ham.. do terço [...]. a primeira vez. então contas tu [...]. foi no dia da inspecção.. espera, espera, espera, espera, espera, espera.. prontos, vai lá então.. ela conta e depois o senhor conta a sua versão.. um de cada vez.. é uma versão de cada um. diga lá.. atrás de mim, o nosso pai também ia ao terço e levava-nos, pronto, éramos católicos e somos, e depois ele levava uns socos, um tamancos, também não era como agora, eram tamancos e eu disse assim 'ai, sai daqui que vem aí o meu pai' e ele nã[...], ainda não o conheceria, não é, e eu 'não venhas para a minha beira', eu assim 'que agora vem aí o meu pai, vem aí atrás de mim' e ele, pronto, retirou-se um bocado e eu vim para baixo. naquele dia não... me falou nada. depois tornou-me outra vez a perseguir, ah, outras vezes fui ao terço e ele foi também. foi também! ele vinha de Castelões, se ia ou não, não sei, ele andava por ali.. [...] para beber uma pinga.. prontos. então, havia lá um tasco à beira. [...]. e ele em vez de ir para o terço até eu sair da igreja, foi para o tasco. tornou-me a perseguir. pronto, e daí, começou depois. olhe, e quando viu que andava aquele rapaz a persegui-la, como é que o seu coração ficou?. eh, ó meu Deus, ó senhor, desculpe, ele também tem de desculpar, eu antes destes vieram outros.. ai é?!. eu tive muitos mais.. ai não foi o primeiro?!. ah, pois não foi, ah! eu não estou a mentir!. ah!. vieram outros. mas eu, prontos. não ligava.. calhou, calhou de ser, não liguei a muitos, foi verdade. que até dois já estão viúvos e outros assim, pronto. e depois a, pronto, ali calhou de ligar a este, depois. está bem [...]. depois eu disse-lhe 'vai-te embora que...', eh, eh, desculpei-me. diz lá.. 'que a minha mãe não, não me deixa conversar. não me deixa, pronto, e eu não estou para andar por aí...' e ele depois, eh, esteve para aí dois meses ou três, depois tornou a vir. então depois tu[...], prontos, digo assim 'bem! sei lá se é para, tem de ser ou não tem'. foi assim.. portanto, gostou mais deste do que dos outros.. mas tive mais, pulha. e ele também teria outras raparigas, pulha. sim.. ele também diz que teve mais raparigas, mas pronto.. sim. mas porque é que gostou mais deste do que dos outros?. ó senhor, calhou! pronto. [...]. devia haver alguma coisa de especial.. eu não posso dizer, ah, então, não houve nada de novo, graças a Deus, não houve nada de especial, de novo. hum, hum.. cá não houveram frocotiques.. muito bem. e depois então começaram a conversar.. é, começámos a conversar.. sim.. mas é. e o seu pai teve que dizer que deixava.. nós tínhamos de, não podia ir para longe de casa, que nossa mãe não nos dava essas rédeas. eu tinha de estar, a minha mãe dizia mesmo 'tu tens de estar onde eu... chame e tu me fales logo'.. hum, hum.. e eu era assim. chamava e eu tinha de lhe falar logo. senão . então a senhora quê, ia só ali . senão elas caíam. para baixo para a rua?. como? não senhor.. ia, descia.. não, não. ah.. a, na, a casa dos meus falecidos pais é ali por trás.. ah.. ele até se vê da, daqui do telhado.. hum, hum.. e até tinha assim um, também assim, ainda é mais assim escondido que aqui, é um recanto [...]. ela vê-se daqui, destas pedrinhas, vê-se dali.. ela vê-se. . hum, hum.. pronto, e eu comecei, ele começou-me a perseguir, prontos, e eu... calhou assim. mas eu tinha de estar onde eu, eh, ela dizia-me 'tens de estar onde eu te chame. [...] teve muita sede. onde eu chame por ti e tu me fales'. foi assim.. [...]. e eu tinha de lhe falar.. e quanto tempo.... só dez minutos.. ham, ham.. dez minutos, não havia mais?. não me deixavam estar mais, pronto.. quanto tempo durou esse namoro?. olhe, não foi muito. foi para aí, seria dois anos?. ah!. seria dois anos, não, nem tanto.. que idade tinha a senhora, na altura?. tinha vinte e sete anos quando casei.. então já.... [...]. [...]. já era crescida.. já era crescida, criada, graças, tinha vinte sete anos.. olhe. hum.. e se comparasse. e, e ele tinha vinte e oito.. ah, se a senhora comparasse o, a maneira de namorar dessa altura. oh!. e a maneira de namorar de agora, acha que é muito diferente?. oh, esteja, oh, esteja caladinho.. porquê?. a maneira de namorar de agora é um nojo.. porquê?. porque a gente vê as coisas. agora não, não ando, mas eu bem sei como é. até se vê nas televisões.. sim.. eh, isto agora não é, dantes não era na[...], Deus me livre de dantes tocar... um, um, um rapaz numa rapariga. bem, não seria todos, vá. olhe que o nosso falecido pai, uma vez, - ele bem se ri - o nosso fal[...] - já lá está - deu com nós ali a conversar. ele ia com umas cordas na mão, ia buscar um molho de coroas, sabe como é, dos milhos. sei.. hum.. cortar para o gado, aquelas coroas.. sim.. e eu i[...], ia a, estava ali à beira de uma casa - os senhores não conhecem, não vale a pena dizer o nome da pessoa, não é, - e estava ali. e o meu falecido pai lá foi ver se. [...]. se haveria alguma coisa de novo. os senhores querem saber eu digo, não é,. [...]. e ele, e e[...], e eu estava desviada do meu homem. [...]. por exemplo, o meu homem estava aqui e eu estava ali, assim, assim, é verdade, era assim. e ele foi, e eu assim que vi a sombra do meu pai - nós já falávamos há uns mesicos, porque ele depois deixou e tornou a vir. também foi contado esse tempo - eu assim que vi assim uma sombra, olhei para trás, o que vale, ele estava - ele bem sabe que é verdade - estava desviado e eu também, e assim que vem a sombra do meu pai eu tremia. parece que até, pus-me amarela. e eu então fiquei assim. e ele foi assim, saiu. deixou-me ficar. eu fiquei assim, fui para o lado de casa e ele, foi assim, pronto. e depois, eh, o meu pai dizia assim 'eu, se tu deres, se tu c[...], entenderes que dás uma treta' - chamava-lhe ele assim - 'a um amigalhote qualquer, tu tens de estar de longe, que se vos eu topo perto, mato-te'. e então, disse-me isso algumas vezes. uma vez também nos topou assim desviado e foi ao, ao... ao penso para os animais - chamamos nós os pensos. o penso.. cortar aquelas coroas que o milho puxa. ham, ham.. hum, hum.. e o meu homem tinha falado comigo em falar o casamento e em vez de, seguiu o meu pai, seguiu o meu pai, prontos. [...] e pronto; e depois ele é que lá falou o casamento. não, não andei muito tempo na conversa, não.. hum.. não, que a nossa mãe não queria. dizia assim 'ou para uma banda ou para a outra'. se quiseres casar, se quiseres um moço, casais, e se não quiseres, larga, eu não estou para andar a pa[...], a espreitar ninguém, nem, não ando agora atrás de ti.' ó senhor, não era preciso andar atrás de mim, mas ela tinha a ideia que, que tinha de olhar por mim, pronto.. hum.. mas já tinha de, já era de maior idade, não é,. pois, de facto.. mas dantes não era assim, de como agora se vê, prontos.
Portugal
Covilhã
M
22
1997
olhe uma coisa, você disse que, eh, antes de entrar para a universidade - você entrou quando, o ano passado, então?. sim, sim. entrei no ano de noventa e seis, noventa e sete.. ham, ham. e antes disso, disse que esteve três anos, eh, que não esteve a, a estudar.. tive três anos que não estive a estudar, exactamente.. e o que é que esteve a fazer, nesses três anos?. nesses três anos eu tive um problema de saúde, eh, relativo, relacionado com o sistema nervoso central. tive um problema de saúde que eu corri vários médicos no concelho da Covilhã e no distrito de Castelo Branco e fiz um montão de exames a tudo e mais alguma coisa e eles não descobriram absolutamente nada. faziam exames a tudo, estava tudo bem. eu perdia o equilíbrio e a minha, o meu ritmo cardíaco acelerava para a casa dos cento e setenta, parado. recorri várias vezes à urgência do Hospital da Covilhã, onde me administravam uma injecção intravenosa, para o coração voltar ao normal. através de uns conhecimentos com uns amigos - um deles já está a terminar o seu curso também em Direito, na universidade em Lisboa - eu consegui - porque ele tinha uma tia no Hospital de Santa Maria que era enfermeira. tem de ser assim.. consegui ir ao Hospital de Santa Maria, fizeram-me uma carrada de exames, viram realmente que era o sistema nervoso, disseram-me logo 'o senhor é um indivíduo nervoso, eh, não lhe acha[...], não lhe encontramos absolutamente mais nada' - fiz desde o coração à cabeça, até ressonância magnética fiz. e então chegaram à conclusão que era do sistema nervoso. eu andava a tomar três valium cincos por dia, o médico disse-me logo se eu andava a ser tratado por um veterinário cá da zona. ah!. e então mandou-me aventar aquilo tudo para o lixo e disse-me 'não, o senhor não precisa de tomar absolutamente nada. o senhor tem que se autocontrolar e autodominar. isto é apenas um problema de sistema nervoso. o senhor teve uma alteração muito grave no sistema nervoso, eh, que oscilou muito e agora até se recompor o senhor tem que se adaptar a esta situação. não tem absolutamente mais nada'. até hoje. deixei de tomar aquela porcaria toda, comecei-me a sentir cada vez melhor, cada vez melhor, comecei mesmo a pensar 'não, isto será, isto é mesmo sistema nervoso'. pronto, acabou. até hoje, impecável.. que bom! ah, isso é bom. mas você deve ter sofrido imenso durante aquele, aquele tempo.. um bom bocado. e o que é, é que foram, parecendo que não, foram três anos! três anos a sofrer!. três anos da sua vida.. eu cheguei a recorrer - porque depois as vizinhas começaram a chatear a cabeça à minha mãe e nos meios pequenos há sempre aquela tendência 'o seu, o seu Pedro anda embruxado'. chegaram-me a levar à bruxa, a essas senhoras que dizem que fazem... magias negras e não sei quê, cheguei a recorrer a esse tipo de gente. levando só dinheiro possivelmente... inventaram para ali umas histórias quaisqueres para, para comer algum dinheiro, e eu.... pois. exacto. e isso durou três anos?!. durou três anos.. fogo! essas coisas são complicadas.. complicadíssimo, vi-me mesmo à rasca.. pois é.. depois, nessa senhora diz que eu que tinha o espírito não sei quê, andei. ah!. andei lá com um tratamento qualquer que at[...] - eu não me senti pior! mas, pronto, eu vim sempre a melhorar, não sei se também foi de ir lá se não. sinceramente se me disserem assim 'se eu acredito em bruxas?' bem, eu acreditar, quer dizer, ele que as há, há, agora eu acreditar, isso para mim não, não me diz absolutamente nada.. pois, exacto. e você, nessa altura começou a tomar valiuns, para, para se acalmar? porque sentia-se muito a.... sim, andava a, tomava três valiuns cincos por dia, um de manhã, outro ao meio-dia e um à noite.. e o médico é que lhe receitou?. tinha sido um médico da região, um conceituado médico, conhecido, pelo menos em Tortosendo, que era o doutor Pitrez.. pois. é, os médicos de clínica geral não são os mais indicados para essas coisas. pois, infelizmente por vezes... . não é,. as pessoas receitam, isto é o tal problema: é que, em Portugal, recorrendo ao centro de saúde, o médico, ainda o doente está a entrar, olha para a ficha do doente, já está a escrever, a passar a receita, sem sequer auscultar o doente. eu tive bast[...], fui bastantes vezes ao médico sem sequer ser auscultado. eu entrava, eu dizia 'senhor doutor. tinha.... queixo-me disto, daquilo', e ele começava a escrever, a passar medicamentos. quer dizer, é impossível. como é que um médico olha para um doente e sabe aquilo que ele tem? é quase impossível.. pois é. ainda bem que você conseguiu esse conhecimento no Hospital de Santa Maria.. foi muito bom, foi muito bom. fui muito bem recebido, visto por especialistas, indivíduos com, com um nível muito grande. hum.. todos eles professores doutores, eh, chegaram a estar em volta de mim seis médicos, e tinham um anfiteatro, portanto aquilo foi feito num anfiteatro, os exames que me fizeram ao coração, prova de esforço, etc., tinham os alunos todos que estão a estudar Medicina na Universidade Nova estiveram a assistir àquele exame.. ah! porque você era um caso... bicudo, não é,. sim, porque era, era um caso esquisito. esquisito.. que eles também não achavam muita razão para aquilo, e então, também tive uma crise, mesmo dentro do hospital tive uma crise dessas do ritmo cardíaco me acelerar. aproveitaram, tinham os alunos na altura, foram chamar o professor que estava a dar aula, e eles vieram todos para ali.. pois. exacto.. viram aquelas coisas todas. depois ficaram com aqueles exames para eles estudarem tudo. acabaram por chegar à conclusão que era mesmo o sistema nervoso.. e não lhe deram nenhum tratamento?. nenhum tratamento. vim completamente sem nada. . ai que giro.. antes pelo contrário, tiraram-me aquele que eu estava a tomar.. exacto. e depois pronto, você... pouco a pouco.. sim, deixaram-me p[...], continuar a fazer uma vida perfeitamente normal. eh, se fumasse, continuasse a fumar, pronto, que não fumasse muito que o tabaco faz mal, mas, também me disseram, também é, o, terrível deixar-se bruscamente, quem fuma deixar bruscamente de fumar, também... pode afectar muito o sistema nervoso. 'o senhor fuma uns cigarros, pode continuar a fumar'.. exacto. ou seja, você, ah, que ficou pior primeiro da sua doença ao longo daqueles três anos por causa de não saber o que é que tinha e cada vez ficava mais nervoso. exactamente. e eu. quando lhe disseram que não havia problema, foi. acalmei muito mais, exactamente. foi acalmando e foi-se habituando a essa própria ideia.. com certeza. e então a partir daí. isso é óptimo.. até hoje, impecável.. ainda bem. pois, porque você agora está óptimo.. sim, graças a Deus, d[...], ultimamente tenho andado perfeitamente bem.
Portugal
Landim - Famalicão
M
60
1997
[...]. bom, mas, eu, a gente podia passar aqui o resto da vida a conversar, senhor Avelino. da vida, da v[...], a com[...], a conversação. mas há uma questão que eu gostava que o senhor Avelino me dissesse. fizesse.. que é: nós comparámos Dom Afonso Henriques em relação à sua mãe . isso.. de certo modo, ele violou um princípio que é o princípio da obediência e do amor filial. . filial.. e não condenamos, apenas constatamos.. pois.. bom. Camilo Castelo Branco e Ana Plácido, de certo modo, há também ali uma violação de princípios estabelecidos.. pois há.. como é que vamos olhar para eles?. eu, o Camilo, admiro o Camilo e bato-lhe palmas, na parte literária.. na parte literária.. na parte conjugal, marido e esposa, não gosto. não gosto, porque ele foi r[...], roubar uma mulher com quem vivia com outro marido. agora se a mulher fosse viúva, que ele esperasse que morresse o Manuel Pinheiro Alves como morreu muito cedo, e ele aguardasse - com certa incerteza, é claro - mas que aguardasse e que se unisse a ela, eu já não condenava. porque ela já era livre. agora ir buscar a mulher ao seio conjugal de outro homem que a amava, ou não saberia amar melhor, mas ele amava-a, já por isso casou com ela, eu acho que Camilo cometeu um grande erro. como ainda hoje muitos con[...], casais o fazem. casou a dona Ana Plácido com um homem que não, não tinha, eh, carinhos, que não sabia olhar para ela com olhos benévolos, olhos de, de, de amor, olhos de, de reverência até. mas, era o marido dela. ela tinha que ver isso antes de casar com ele. entrou na poça que gostava dele, então foi, gostou do dinheiro dele?. ninguém sabe como é que isso foi.. ah, mas i[...], isso... é mau.. pode ter sido casada porque os pais a induziram a isso.. sim. há casos desses. que é o, é o caso do 'Amor de Perdição' com Teresa. hum, hum, hum.. a Teresinha. a Teresa e s[...]. com o primo. com o primo. . com um primo. há casos desses, mas, se há casos desses ela tinha que reprovar os pais que a meteram nesse sarilho, e nunca o marido. o marido apenas foi saboreá-la porque gostava dela, dentro do matrimónio. eu penso assim.. hum, hum.. portanto, o Camilo, para mim é um ho[...], um ser falhado, na parte do lar. é um grande homem na parte das letras, porque deu vida a muitas novelas, a muitos contos, a muitas histórias que andavam por aí, eh, apagadas, aqui no Minho, e não só, mas aqui sobretudo, na parte... minhota, e ele deu-lhe vida. com personagens, avivou, impregnou certos movimentos que a literatura alcançou outro tom que enriquece o património nacional das letras, suponho eu.. hum, hum. portanto, quer dizer o senhor Avelino então que acha que Camilo não inventou o que escreveu!. podia ter inventado e, e, e a função do escritor também é um bocado essa. mas, foi sempre beber a uma fonte.. portanto, recriou.. é. a uma fonte. e ele, ao, ao, ao escrever 'A Brasileira de Prazins', que era uma casa abastada aqui de Landim, bastante gananciosa, que tinha muitas quintas, e o proprietário, que era um tal senhor Joaquim Araújo, eh, foi ao Brasil, e enriqueceu e veio para aqui, casou com a sobrinha, sobrinha dele mesmo, e essa sobrinha, eh, passado anos adoeceu. e ali havia uma doença implantada por ser tio com sobrinha, o sangue com sangue que não resulta muito bem. e Camilo, segundo dizem, que andava sempre a pedir dinheiro emprestado, bateu à porta dessa referida quinta, a ver se era atendido. essa quinta lá não o atendeu porque duvidava do porte dele, e ele lá não gostou porque sabia dinheiro que, que havia lá com certeza, procurou como historiador saber os motivos da família e onde lhe disseram que a fa[...], a fortuna foi adquirida no Brasil e que ele que era um homem bastante adinheirado, mas que era homem para ir ao Porto com umas côdeas de pão no bolso, para chegar a casa só comer à noite para não gastar dos grandes rendimentos que ia buscar das acções que tinha, de rendimentos através do banco... do Brasil. ele sabendo esses pormenores, viu que a mulher que passou a parte, a maior parte do tempo... adoentada, entrevada, no leito de sofrimento, começou então a desenvolver isso e escreveu a célebre 'Brasileira de Prazins', que muitos dizem que até hoje até que será o melhor romance escrito por Camilo Castelo Branco, porque focou aquela parte dos liberais, desenvolveu, lá mostrou os que queria, e a ganância do povo. ah, entre eles, o, o José de Vilalva, que gostava muito, o José de Vilalva gostava muito da tal brasileira de Prazins, porque era um amor que, construído desde a adolescência, mas quando o, o, o irmão do, do, do, do pai da noiva resolveu vir para o bra[...], do Brasil para Portugal, o, o, o pai procurou desviar o coração da filha e entregá-lo ao tio, porque do José de Vilalva nunca viria os cobres tão largos para comprar quintas aqui à volta, como ele tinha. que ele tinha mais de oito quintas, naquele tempo. e portanto, houve aqui, digamos, uma ganância, hem! camuflada pelos interesses sentimentais dum lado e, eh, e impregnados do, do in[...], do, do, do, do, da mesquinhez do, do venha a nós do rendimento, e o amor deram-lhe um pontapé. de maneira que essa mulher tornou-se logo imediatamente uma infeliz porque quem ela amava a, ao fundo era o José de Vilalva.. bom, vamos voltar à dona Ana Plácido, porque é uma figura que.... central.. por quem, é, ah, nós só temos uma vida. isso.. e só, portanto, tudo o que podemos fazer é durante essa vida. se o Camilo foi o grande amor da vi[...], da dona Ana Plácido. Ana Plácido.. ah, se apareceu depois dela ser casada. sim.. mas se era a sua única oportunidade de viver esse grande amor, o que é que o homem que há e[...], dentro de si diz?. ora bem. fora dos princípios e da moral. sim, nós.... o que é que o seu sentimento pessoal lhe diz?. a minha mãe dizia-me que todos os dias nasce e cresce quem melhor nos parece. hum, hum.. uma frase que já ela ouvia quando era menina e por aí fora, não é, claro que todos os dias, ainda hoje nós mesmo, nós homens, já adultos, se formos por aí fora, com os olhos bem abertos, vemos belezas encantadoras, que nós até nem temos força de resistir. pois. mesmo hoje. nós, às vezes é muito comum dizer 'um padre falhou acima, um padre fa[...]', pois ele ao ver tanta beleza, às vezes à volta dele, ele é um homem. tem um grande carácter, tem uma vocação, tem um, uma ordem religiosa, mas humanamente é um homem.. hum, hum.. se ele começa a presigar, a saborear as belezas encantadoras que estão estampadas no rosto das jovens de dezasseis, dezassete, dezoito anos, que vêm para junto do harmónio, ou para junto do altar, adornar, decorar, cantar, dar, eh, vida ao acto do culto, ele tem que ser um homem muito seguro, senão ele estatela-se. como nós hoje, chefes de família, não sei se os senhores o são, mas sou eu. hum.. mas nem que o sejam. ainda hoje, os senhores, nessas viagens que andam, de colheita. hum, hum.. se realmente não for firmes interiormente o senhor estatela-se como se estatela qualquer um, porque a beleza humana está em toda a parte. se uma mulher é, é possuidora das belezas das estrelas, eh, dos cânticos dos anjos, que Deus adornou a mulher com um encanto infinito, ora nós, que se viemos ao mundo para as apreciar, temos de ser conduzidos por coisas muito mais firmes do que a beleza que nos es[...], eh, estampa logo aos olhares, senão perdemo-nos.. muito bem.. mas nós não podemos andar atrás de coisas bonitas, só de exterioridade. nós também temos de fazer um caminho. hum, hum.. e trilhá-lo.. sim senhor. senhor Avelino, mas o senhor mesmo disse que Deus adornou a mulher desses encantos e dessas belezas. é verdade.. acha que Deus adornou a mulher desses encantos, e dessas belezas para nos tentar, para nos mandar para o inferno?. não. também acho que não.. também não.. não. deu-lhe essa beleza porque ele gostou de, de criar e de ter a criatura bela. uma flor, a humanidade, tudo belo, desde o pensar a, a, a, a tudo! quer dizer, no desejo, nos olhares, sabe que um olhar fascinante de uma mulher prende um homem. eu também fui rapaz novo e bem vi. eu às vezes era preso por um olhar e elas, até da inocência delas, mas eu, pronto, sabia, eh, colher. os senhores hoje andam a colher usos e costumes e eu também saberia colher um olhar, ou um sorriso que me... prendia. e ela sem saber estava a mandar em mim. o que eu tinha era de lá depois dar um pontapé e se quisesse seguir sempre, ou estatelar-me depois.. não acha que, que devíamos ter, em relação a ela, a at[...], a atitude que Cristo teve em relação a Maria Madalena?. sim, sim. pois. nós devemos perdoar à Ana Plácido. e eu perdoo-lhe, mas, eh, sei que ela que fez mal.. pois.. não posso dizer que fez bem.. é que eu acho que, mais do que perdoar, devíamos compreendê-la.. sim. mas que fez mal fez. que fez mal fez. e até, ela escrevia também bem. ela era, era uma mulher que também sabia escrever.. já imaginou o que seria a existência de Camilo Castelo Branco se não tivesse. sim.. encontrado Ana Plácido?. a Ana Plácido. bem.... acha que teria sido melhor ou pior?. continuará a ser o grande boémio... citadino, como era até aí. . sim.. pousa aqui, pousa acolá, um pouco dizia bem, um pouco dizia mal, ia aos saraus das freiras ao Convento da Avé-Maria quando a abadessa fazia anos, recitava, elas batiam palmas. no outro dia escrevia logo um romance a, a, a, 'A Freira sub[...], no Subterrâneo', eh.... ham, ham.. outras coisas, logo a picá-las. eh, eh! tinha esse dom, mas não deixava também, nos dias de festa atender aos convites, e como homem literário que era, ia abrilhantar os saraus literários. quer num convento, quer noutro.. sim.. portanto era um homem que tanto cambava para um lado como descambava para outro, como seguia em frente. tinha os seus, a sua maneira de ser. não era um homem certo.. hum, hum.. Camilo não era um homem certo.. sim. mas finalmente, então, Ana Plácido terá tido um papel positivo ou negativo na vida de Castelo Branco?. ora bem. na sua vida pessoal, no seu equilíbrio.. no seu equilíbrio de... ele rever-se no lar, o homem agasalhou-se. não há dúvida que manteve-se ali fiel ao, ao lar, lutando sempre com a pena para fazer sobreviver ao lar, porque não havia outro rendimento que não fosse a pena dele. eh, dona Ana era uma senhora da, eh, da alta sociedade que, eh, oferecia muitos banquetes, e sobretudo lanches ao, ao, ao Garrett, ao, ao Guerra Junqueiro, e... ao Dom António Feliciano de Castilho - que até está lá um par[...], um padrãozinho de mil oitocentos sessenta e seis, a atestar a visita dele a Seide - e etc. e então ela oferecia es[...], esses lanches, fumava charuto, oferecia uma caixa de charutos aos que fumavam, e tudo isso era uma despesa... fabulosa. ainda hoje, nas nossas casas, se nós metermos muito na sociedade a, a dar brindes de coisas, a, o, as nossa bolsa começa a esvaziar-se. ora na casa de Camilo era na mesma. eh, o Camilo tinha que sustentar isso e ela então com as suas fidalguias, com as suas burguesias, lá sustentava, ia-se polindo, não é, ia até escrevendo, que ela também, eh, tem um livro intitulado 'Luz Coada por Ferros'.
Portugal
Lisboa
F
29
1995
então o outro era o outro, que era: estávamos na praia e aquilo tudo cheio de areia e não sei quê, era um grupo de mulheres, assim, com fatos de banho antigos tipo [...]. . tipo quê? . sei lá... . anos vinte? . anos vinte, sim, tipo anos vinte. mas só que os fatos eram todos verdes-escuros e assim com uns folhinhos, depois tinham uns barretinhos na cabeça, também assim com os folhinhos, tudo verde-escuro. elas também tinham toalhas verdes-escuros. e então aquilo era um grupo de prisioneiras. . ah! . era tudo prisionei[...], estavam todas na praia e eu era uma delas, percebes, era, só que não era eu, era uma pessoa que eu sei que era eu, porque eu falava através daquela pessoa e sentia o que aquela pessoa sentia mas ela não tinha a minha cara... . sei. . nem o meu corpo, nem nada. e então, de repente, e havia assim uma rede verde, a separar a areia e de um lado estavam as prisioneiras, não é, e do outro lado eu pressuponho que eram as pessoas normais, que estavam ali, no resto da praia e depois para se sair dali tinha que se atravessar aquele bocado da areia e depois ia-se para a prisão... . sei. . suponho eu. e, e de repente elas começaram-se a arranjar e já tinham saído muitas pessoas à nossa frente, e eu olhei e disse 'então, então vocês vão para onde?' porque elas em vez de irem para o lado da rede, estavam a i[...], estavam a ir para o outro lado. e elas disseram 'ah nós vamos fugir'. e eu acho que estava um homem metido no meio delas mas é difícil de saber isto, eu tenho a impressão que estava lá um homem... . curioso. . mas não, mas não tenho a certeza, porque eram m[...], mu[...], eram, eram mulheres só, eram para aí umas três mulheres e ela 'nós vamos fugir' e eu fiquei assim a olhar e disse 'pois é, é muito fácil fugir, por aqui, de facto, mas não adianta de nada, fugir, para que é que a gente vai fugir? depois apanham-nos'. sabes, e eu achei que aquilo era tão natural, que nos iam apanhar a seguir, não valia a pena fugir. então muito naturalmente fui-me embora sozinha. . para a prisão? . para a prisão. e virei para me ir embora para a prisão, só que quando cheguei à prisão, não era nada a prisão era a minha casa... . Paula! . com o António, não é giro? e o António já estava a vestir-se, no quarto, e eu fui tomar banho. e depois, saí enrolada na toalha, espreitei, vi o António a vestir-se, voltei para a casa de banho. e quando voltei para a casa de banho, a água da banheira onde eu tinha estado a tomar banho, estava cheia de peixes, Helena!. peixes, peixes de todas as cores, de todos os feitios, lindos, uns pequenos, outros grandes, uma coisa enorme, olha, e ao mesmo tempo que aquilo era lindíssimo, era aflitivo, era um horror. eu comecei a gritar 'António anda cá ver, António vem cá ver'. e ele 'o que é que foi, o que é que foi?' porque eu entretanto, tinha, tinha ido lá para tirar o, o ralo da banheira, percebes, . sei. . e fiz aquilo na mesma, em vez de não tirar o ralo, tirei o ralo na mesma, então os peixes todos a irem pelo ralo abaixo e um tão grande e eu a pensar assim 'este não vai s[...], caber no ralo'. então aquilo já era nojento, estás a perceber, porque o peixe já era grande demais, para caber no ralo, e eu pensei 'estes peixes vieram todos agarrados à minha pele'! . meu Deus, Paula, isso é . estás a perceber, . Dali . era isso que eu estava a pensar, era em larvas, vieram larvas ou ovos ou, ou qualquer coisa, vieram agarrados à minha pele, porque eles, depois quando eu me meti na banheira, na água, foi como se na água eles tivessem crescido. . incrível! . estás a perceber, aqueles peixes tinham vindo todos colados a mim. . da praia, da pri[...], da, qu[...], daquele grupo de mulheres.. da praia, daquele grupo das mulheres, da prisão, daquela coisa toda, estás a ver, e eu ali 'António vem cá ver, vem cá ver' e ele a ver, e, e pronto, e, e o, e os peixes foram-se embora. e depois eu muito aflita, com aquilo, e quando chego ao quarto, havia peixes a voarem no, num, no quarto, assim era um peixe muito lindo, assim preto e cor-de-laranja, assim com riscas... . imagina. . e eu a ver o peixe assim voar, no ar, a passar assim como se estivesse num aquário e eu, e eu a olhar, para aquilo, assim. . é bonito... até. . não é? mas não é? . só a narrativa, já é... sugestiva . pois, mas é muito estranho, não é, . é, é curioso. já falaste nisso assim? . não, não, não falei com ninguém. não sei o que é que isto quer dizer... . mas deve ter aí, há cargas óbvias, não é, . sim, pois, há coisas óbvias.
Portugal
Beja
M
35
1997
eh pá, eu tenho várias histórias, tenho várias histórias de caça. concretamente agora dessa, não estou a ver exactamente qual é que a história.... histórias de caçadores.. ai tu estás a referir, eh, há umas que são brincadeiras, há outras que são, que são.... reais!. que são verdade. eu não sei exactamente se tu queres uma dessas de... . que tu foste buscar o pato dentro de água, a nadar.. ah! já sei! já sei! essa já sei qual é que é. mas essa, por acaso, foi de Inverno. mas essa, por acaso, foi de Inverno.. verídica?. foi. essa foi verídica. essa foi verídica.. então conte-nos lá isso, já agora.. está tudo excitadíssimo!. não, essa, eh, foi... durante o mês de, de Dezembro. eu estava, tinha ido sozinho, e tinha ido aos tordos. ali estive, ali estive, mas não havia meio de aparecer nada. de maneira que, às tantas, quando já estava exactamente para vir embora, comecei a ver um grande bando de patos. e comecei a ver que se estavam a querer fazer exactamente àquela albufeira onde eu estava. e disse 'eh pá', fiquei logo todo entusiamado, procurei esconder-me e colocar-me... num sítio onde lhes pudesse chegar. às tantas eles realmente lá vieram e eu derrubei um ou dois patos. só que um apanhei-o, só que o outro caiu dentro de água. 'ora que grande azar' [...] mas isto dos caçadores, quando deixam a caça entrar [...] não gostam de a perder, de maneira nenhuma; eu cão não tinha - ele estava a falar no cão mas eu nessa altura não tinha cão - antes tivesse! antes tivesse! de maneira que, eh! [...] como é que eu agora o, o apanho? ah! eu bem que jogava pedras, mas não ia lá. digo eu assim: 'bom! isto só há uma maneira'. fui, tinha o carro próximo, liguei o carro, liguei a chaufagem, liguei tudo, despi-me, pus-me em pêlo, e enchi-me de coragem, lá fui, trouxe-o, mas vinha a tinir com frio. e imediatamente me meti dentro do carro, eh, com o chaufagem ligado e lá me vesti então. era essa que ele estava, era essa, João, que estavas a querer referir?. pois, esta podia também, também, essa é uma entre muitas.. m[...], mas. mas há muitas. sim?. há muitas histórias e há, há muitas delas em que... se contam até por graça.. hum, hum.. e posso-lhe contar uma - esta é por graça e, e claro que mete muito exageros. mas isto era do... velhote, lá da Amareleja, que, pronto, caçava com uma daquelas espingardas muito velhas, já toda muito velha e toda muito presa com arames, e só dava um tiro. e era daquelas de atacar pela boca. então, quando estão lá, o pessoal da Amareleja, que ele caçava, com uma manta às costas, então, sai daí uma lebre, ele estendia a manta, 'pum!' atirava e depois ia apanhar as peças que caíam da espingarda. bom, mas depois começa a haver aquelas espingardas de cinco tiros. 'cin[...], cinco tiros! cinco, então mas a minha também dá cinco tiros! a minha também dá cinco tiros'. e então o que é que o [...] resolve? meter cinco cargas. e vai então, vai com o filho, iam os dois passando em linha, às tantas saiu uma lebre. saiu uma lebre, ele puxa da espingarda, 'pum!' ele vai para um lado, fica com um bocado da coronha na mão, cai, o resto vai para o outro lado. e o filho: 'eh pai, eh pai, eh pai, o que é que, eh pai', 'foge filho, foge, que ainda faltam quatro'. essa é uma maravilha.. claro que esta é exagerada.. sim. essa para ser verdadeira era um bocado, mas isso deve ser preciso uma paciência de Job para estar ali parado numa porta à espera que o pato passe.. não. depende, há alturas em que é preciso esperar, esperar, esperar. mas, eh, é uma questão de gostar.. não se pode fazer barulho nem nada, não é,. não é conveniente. quando muito... tentar imitá-los ou com a voz ou então com um aparelho qualquer.. e eles deixam-se enganar?. d[...], deixam.. ah, é?. em certas situações. depende. há alturas, não, não nos podem é ver.. ham, ham.. não nos podem é ver de maneira nenhuma. se nos vêem, está tudo estragado. aí já lá não, já não aparecem. porque de uma forma geral, e à tarde, eles têm... determinado tipo de hábitos.. [...]. então vêm sempre um ou dois, que passa, gira, vem, baixa e depois vai-se embora.. para fazer o reconhecimento, não é,. é. tipo reconhecimento. eh, não há nada, normalmente quando vem zzz, vem tudo. vem tudo de uma vez.. isso é o pato?. sim, sim. os patos.. então, e com as lebres e as maganas das lebres e.... eh pá, a, a lebre tem uma caça diferente. a lebre tem uma caça, da maneira como n[...], como aqui se caça no Alentejo, é sa[...], é caç[...], caça de salto. é o nome... do tipo de caça que se dá, à lebre e à perdiz.. hum, hum.. caça de salto, há caça de batida, há diversas maneiras de caçar. mas à lebre, de uma forma geral, é de salto que se caça aqui no Alentejo.. e chama-se de salto porquê?. de salto, talvez por... se andar sempre de um lado para o outro.. ah!. não parar. eh, organiza-se, à lebre pode-se caçar sozinho, com um cão.... hum.. lá... com o cão à procura. mas utiliza-se, normalmente chama-se caça de salto quando é à lebre e à perdiz. há uma linha... de caçadores, que se organizam e combinam as posições de cada um e, eh, e é u[...], e uma c[...], e de uma certa forma a táctica, hum.... hum, hum.. utilizada, não é, e [...], porque, e é necessário também conhecer os terrenos, para se saber as crenças da, da caça. aquele, pronto, normalmente quando fogem de um lado, se fugiram daqui vão para ali, se fugiram dali vão para a[...], vão para outro lado. e depois caçar de uma certa forma. de uma certa forma é, é, é chamada asa de caldeirão, que as car[...], as pon[...], as pontas. hum, hum.. vão bastante mais adiantadas do que o, o miolo.. hum, hum.. eh, começam a andar, é necessário conhecer o terreno, e aí anda-se bastante. aí anda-se bastante e a caça sai muitas vezes inesperadamente. e aí sim, aí anda-se bastante.. isso aí é um verdadeiro desporto.. aí sim. aí é, aí é que se anda. aí é que sim. aí não há.... em compensação tens a caça ao javali em que podes fi[...], tens que ficar ali... quietinho, não é,. depende. depende da maneira como, como, justamente como se caça. aí sim. aí é que se puxa... realmente.... a caça ao javali é, é uma coisa séria.. é. é diferente. é outra coisa. é completamente... diferente.. não é perigoso, o javali?. ah! coitado dos bichos! perigosos somos nós!
Portugal
Penedo Gordo - Beja
M
59
1997
[...]. tem muitas ovelhas, é?. setecentas.. ih! está sozinho a tomar conta de setecentas ovelhas?. [...], sozinho, sozinho. então, para que é que eu quero mais gente?. então é [...]. eu estou, as pessoas [...] ali para nada.. e se fugirem meia dúzia delas, como é que faz?. não fogem que eu não deixo.. tem um cão?. [...]. tenho o cão, que ajuda.. ah!. é, é.. e as ovelhas, e aqui, eh, cria-se as ovelhas, e o leite delas, como é?. o leite delas agora não temos disfrutado.. hum, hum.. faz-se em... criaçãos.. sim. . e a criação é, dá carne, e pronto.. pois.. então, mas eu já tirei o galheteiro ao senhor João?. mas há, quando chega. está aqui um bocadinho.. ralha-lhe!. o seu marido partiu-me um bocadinho, não vê? . ah!. eu não tenho as mãos muito lavadas.. isso, nada faz mal, não é, ah! nem vale a pena.... hum.. preocupar muito.. pois é.. ah, e a lã das ovelhas, para tosquiar aquilo tudo, como é?. há uns rapazes. hum, hum.. à máquina, depressa as tosquiam. depois mete-se [...], aqui em Beja, não sei para onde é que ela vai, depois.. já não é como antigamente, que era à, à tesourada, não?. é, à tesourada. lembra-se disso?. eu não me lembro, mas ou[...]. que idade tem o senhor?. eu tenho cinquenta e três anos.. cinquenta e três, é quase da minha idade.. no[...]. eu tenho cinquenta e nove.. cinquenta e nove. [...]. hum.. lá nos Açores há poucas ovelhas.. sim, lá não tem assim muitos gados de ovelha.. não, têm muitas vacas.. muitas vacas, nos Açores.. é.. hum.. ovelhas há poucas.. há poucas. não, aqui o, a nossa região de Alentejo, que é aqui Beja. hum, hum.. havia muitas ovelhas. só que hoje estão muito reduzidas. têm reduzido muito, muito, muito.. hum, hum.. dedicaram-se à, mais à seara, mais à seara, mais à seara, porque, as ovelhas têm que trazer pessoas atrás, ou adiante, e as searas é com tractores e a pessoa chega à tarde mete o tractor num casão e vai para casa e penteia-se e vê a televisão, e prontos, já está. . acabou.. acabou. e então as ovelhas têm-se reduzido muito, muito, muito. mais, que temos tido bastante subsídios. hum, hum.. para as ovelhas. mas não, mesmo assim.. hum.. não há ninguém que queira. que queira.. andar à par de ovelhas.. é uma vida muito sujeita, não é,. vida sujenta, e além disso, presa e [...]. pois. aquilo é, de Verão é, enquanto há luz elas andam por aí, não é?. sim, depende, da maneira que elas têm tratamento... que apanham no prado.. hum, hum.. se tiver um tratamento bom no prado elas não andam muito tempo de noite.. não, deitam-se.. ah! deitam-se. depois.... pronto. mas se não houver o tratamento preciso, pois de noite também fazem um jeitinho.. hum, hum.. mas só que a gente não tem tido Verão aqui.. este ano.... no nosso Alentejo.. sim.. que quando não chove faz frio. não temos tido aquele Verão. portanto, pouco se encostam durante o dia, mas quando vem ali à tarde, ainda com sol, já estão encostadas. eu até me aborreço da maneirada. ontem, por exemplo. hum, hum.. aqui à tarde, ainda estava o sol alto, já elas estavam deitadas. digo 'ó velhacas, venham para aí mais um pouco', qual quê.. já estavam jantadas, senhor José?. estavam.. pois. [...]. estavam fartas, vieram-se embora, deitaram-se. 'olha, eu vou fazer também o comer, e como, e deito-me também'. pronto. deitei-me ainda com ar de dia, ainda se via bem.. e de manhã, elas acordam. [...]. de manhã, às seis horas, então marchámos. marchámos, levei-as a um sítio em que elas quando veio o fim de uma hora e pouco estavam cheias. 'eh pá, então mas a gente agora, o que é que eu faço?' trouxe-as para cá, vieram, vieram, vieram, vieram-se deitar. o r[...], o resto, precisava, não beberam. aquilo, a comida era verde, não tiveram apetite da bebida.. [...]. para, quando a gente come uma salada também não tem muito. pois é, também não tem muita sede.. também não tem muita sede, é.. e nunca ninguém lhe rouba uma ovelha aí, nem, nem nada?. que eu dê notícia, não tem acontecido. mas não diga que não aconteça amanhã ou depois.. pois.. mas que as pessoas muita das vezes têm apetite de comer. claro.. o que não querem é trabalhar. pois.. isso é que aí acontece, há muita.... nem... pois é. pois é.. assim, uma maneira de, dum borreguito, já me tem acontecido, de achar em falta.. ham, ham.. ali ovelha não, não me tem acontecido.. ham, ham.. hum, hum.. são suas mesmo, as ovelhas?. n[...], são minhas umas, e outras são da dona aqui desta área toda.. ah!
Portugal
Porto
M
42
1995
eu acho que as pessoas do Porto têm uma maneira muito especial de viver, não é,. eh, sim, eh, não sei, eh, eu, como sou daqui, sempre fui, nascido e criado aqui, não sei. não posso muito falar, acho. de facto, sei lá, não gosto de Lisboa, por exemplo.. não gosta?. vou a Lisboa e venho-me embora.. porquê?. porque não me sinto bem, porque, e já tive lá amigos, mas, não, eh, sei lá, eu acho que é diferente das pessoas aqui do norte. são mais individuais, mais fechadas no, e, não é o ser mais fechadas, mais, tudo mais isolado.. pois.. já está muito mais... metrópole. Lisboa é mais parecido com uma metrópole. o Porto ainda tem espírito de aldeia, do, da, do bairro. da, as pessoas, eh, preocupam-se mais, são mais solidárias. Lisboa já é mais.... pois.. anónima.. pois é. [...] é isso. eu penso que de facto as pessoas são mais próximas aqui.. é. aqui as pessoas são, estão mais próximas. é. isso se calha[...], isso, para mim, por exemplo, prontos! não, é uma coisa que me afecta logo de imediato. não, não me sinto bem em Lisboa.. hum, hum.. começo por chegar lá e... diz-me pouco.. pois.. não é, eh, a[...], até mesmo, ah, sei lá!, das vezes que lá estive e que até fui um bocado forçado a 'fica e tal, fica mais uns dias', não sei quê. e eu achava que havia um certo vazio, que as pessoas que, que era assim um bocado falso, coisa muito plástica. não, o norte não. as pessoas são mais, têm outra comunicação, outro.... eh, eu penso. mais interessadas no humano. pois.. Lisboa, vá, mais, eh. eu penso que isso também em Lisboa é quando a gente olha assim de fora, não é, porque depois também há os grupos que em relação. claro, também há os grupos, exacto. mas pareceu-me um bocado diferente daqui do Porto. é evidente que as pessoas de Lisboa também chegam aqui, e, e também têm essa sensação, não é, um bocado.. não, mas eu noto. embora reconheçam mais que há mais. hum, hum.. eh, que há o, um, digamos, há outro calor humano.. é, é.. muito diferente. e eles gostam muito. eu notava que as pessoas quando eu ia a Lisboa queriam que eu ficasse, porque gostavam do tripeiro, do. pois.. dos gajos do p[...], do norte, eh, era uma coisa que eles não tinham, um bocado, aliás eles chegavam-me a dizer, algumas pessoas, que era isso, que.... sim. eu pessoalmente penso que as pessoas do norte são mais comunicativas. é.. têm um espírito diferente.. sim, sim. têm um espírito diferente.. e quanto mais para o su[...], para mim Lisboa ainda não é o pior. ainda, eh, pois.. quando se chega ao, a Faro, por exemplo, eu acho que é muito pior do que Lisboa.. Lisboa. eu por acaso nunca fui lá para baixo, para o Algarve.. não?!. é que depois também nunca gostei muito de ir para o sul. . pois.. e nunca fui ao Algarve, tem piada, nunca me interessou. pois.. muito ir. primeiro achava que aquilo que de facto seria interessante de Verão mas depois... é montes de gente, a coisa é assim, uma coisa que, prontos, já não me, não, não estaria interessado. para fazer umas férias, de facto, não era... o ideal.. hum, hum.. a confusão, a turbulência, a agitação do... consumista e tal, não, dizia-me muito pouco.. é. depois, de Inverno também não se propiciava. pois.. e acabei por não, e também de facto noto que, quanto mais se vai para sul, prontos, mais há esse tipo de problemas, mais, e nós sentimos um bocado isso, não é, eu, por exemplo, gostei muito de Paris por ver muitos portugueses, por encontrar portugueses. hum, hum.. e o português no estrangeiro é muito diferente, quer ele seja do norte ou do sul. é sempre.... é português!. comunicativo, pois, é português! é isso. se calhar isso acontece com toda a gente, não é, não, mas nota-se que são mais comunicativos, não há, não se nota tanto essa diferença.. hum, hum.. talvez pelas pessoas estarem fora do seu país, não é,. pois.. mas, há... mais interesse, eh, mais, eh, são mais solidárias. pois.. interessam-se mais pelo, pelo outro. hum.. talvez.. porque, estão, também estão um bocado mais indefesos, não é,. pois.. mas, gostei por causa disso, por exemplo. eh, hum, era uma coisa que me levava a sentir bem, embora eu, nesse aspecto Paris achasse que também fosse muito anónimo. muito mais anónimo do que Lisboa.. pois, ainda é maior, não é,. ainda é muito maior, não é, de facto, as grandes cidades parece-me que criam uma situação de anonimato, de isolamento, de. mas se calhar, as f[...], há, eh, penso que. inclui a realização, não é,. pois. se calhar, actualmente há muita gente que procura, eh, justamente esse anonimato, vá para as grandes cidades para ter esse anonimato. não lhe parece?. eh, não. eu acho que as pessoas que estão a ir para as cidades, para mim, primeiro porque parece que aqui se trata de uma questão de so[...], de sobrevivência. o campo não tem condições para as pessoas viverem e... tudo o que é progresso, evolução, quer dizer, pode ser para o bem ou para o mal, não sei. hum, hum.. eh, não chega ao campo. e, por outro lado, é que as pessoas vêm para a cidade um bocado para procurar isso, e uma melhor qualidade de vida, porque de facto está na cidade, não é, qualidade, se calhar no sentido errado, não é, porque, eh, tenho certas dúvidas se de facto se vive melhor na cidade do que no campo, não é, mas prontos, eh, por outro, as pessoas é o isolamento, é, é estarem mais em comunicação com o mundo. coisa que, eh, o campo não possibilita, não é,. pois.. e.... pois. se calhar é isso. mas.... e é um bocado isso. depois claro que se criou o anonimato porque... se começa a misturar gente de muitos lados, não é, e as pessoas também, prontos, a, a cidade já por si está a impor, de certo modo uma tendência para o ano[...], anonimato, para o desconhecido, para, pessoa, prontos, só está relacionada com um número e mais nada, não é, porque, não sei se interessará ao poder, de certo modo [...]. acha que o poder. está interessado um bocado no anonimato, não é,. em que aspecto?. em todo. até para sua própria defesa, não é, se as pessoas de facto não se comunicam entre si, eh, não podem ser solidárias, não é,. pois. e estão cada vez mais afastadas de um problema, que pode ser colectivo e, e também individual, não é, eh, um problema qualquer que surja, não é, eh, as pessoas aí, eh, não estão, não estão, eh, preparadas para se defenderem colectivamente, por exemplo. hum, hum.. não é, vê-se isso no mundo industrial, não é, em que se criam diferenças entre as pessoas que trabalham e... se procura que hajam interesses pessoais para que, eh, cada um tenha qualquer coisa a defender e não haja espírito de que há... uma coisa colectiva a defender, não é, isso vem do poder e vem. hum, hum.. prontos. e depois, eh, de certo modo o anoni[...], o, o isolamento e o anonimato, não é, a, a individualização, eh, acho que é uma maneira muito inteligente de, eh, de acabar um bocado com lutas colectivas, a nível do, da discussão política, da, da coisa política em si, não é,. hum, hum.
Portugal
Lisboa
F
55
1996
e é, é sobretudo uma clientela feminina, isso nem é preciso perguntar?!. sim. não, sim, nós temos uma gama também para, para homem. eh, e já tivemos essa gama, portanto muito mais completa. mas, de qualquer das maneiras, temos uma gama, pronto, de creme hidratante para a pele, uma opção after-shave, eh, águas-de-colónia, after-shaves, mousses de barbear também, temos, embora, claro, que os produtos abundem, mais, em quantidade para, para a mulher, não é,. hum, hum. eh, na sua opinião, os, os homens não necessitam de usar produtos de beleza, como é que...?. bem, eu acho que sim. todos os homens, o, a, a pele é igual. precisamente. eu os ho[...], acho que os homens devem-se tratar. o que é, é que não está muito nos hábitos dos nossos... homens portugueses, não é,. hum, hum.. porque em França, quando eu entrei na firma, havia uma linha bastante completa de homem, onde tinham um peeling, que é um esfoliante para limpar a pele em profundidade, para retirar as células mortas, eh, pronto, pontinhos negros e depois uma máscara. e de facto era óptima. é, é, era ópti[...], eram óptimos esses produtos. só que não tinham aquela venda, pronto. hum, hum.. enfim, que a, que a Yves en[...], entendia que havia de, de ter, e eles acabaram por tirar cá no nosso país, em Portugal retiraram. hum, hum.. e em França continua a haver, é evidente, já estão mais mentalizados. isto passa por uma preparação também. que é necessária, não é,. a máscara, é de facto, é um creme. é u[...]. que se aplica, não é,. po[...], é um creme. sim. o que é, é que tem outra... função. uma máscara, pronto, é um creme mai[...], eh, eh, a máscara deve ser utilizada, tanto um peeling como uma máscara é um tratamento extra, que se deve fazer no final de semana, portanto, de oito em oito dias, para fazer uma limpeza mais em profundidade, pronto.. hum, hum.. e, e pronto. e é muito boa [...], deixa a pele muito macia, especialmente o peeling, deixa a pele muito macia, limpa os poros, vai dar origem a uma renovação celular muito mais rápida e depois a, a máscara vai dar todos aqueles elementos que são necessários à pele.. hum, hum. eh, o que é que terá feito com que os homens portugueses não se interessassem por esse...?. eh, não sei. isso há muitos factores. olhe, o, tenho a impressão que o primeiro é o factor económico, também. hum, hum.. e depois cla[...], não sei eh, eh, eu não, não sei muito bem, mas, ah...!. o factor cultural, não acha?. cultural também. sim. também o factor cultural, acho que sim, também, isso também, pois, os, eh, certos hábitos que não foi, não foi adquirindo ao longo da história, não é,. hum, hum.. os portugueses.... não, não se costuma dizer que os homens querem-se feios, como é que é?. não, isso, o homem não se quer bonito, para não ser .... sim. mas que se querem feios, sujos e não sei quê.. ah, eu não sei. não, eu na[...], pronto, a mulher evidentemente está sempre com medo de perder o seu homem, não é,. hum, hum.. e então também não o, não o, não, não lhe interessa muito estar a embonecá-lo, não é, talvez com m[...], com, com m[...], com medo, enfim, mas penso que não. eu acho que, que isso já não tem razão de ser nos nos[...], no nosso tempo. acho que não.. com medo que ele seja catrapiscado. eh.... por outra.... exacto. exacto. então! depois, dizem, segundo diz a lenda que cabe a cada homem sete mulheres, não é, veja a posição da mulher, não é verdade? não gosta de repartir, não é, isso não... sei.. e o próprio homem não sentirá que perde a sua virilidade?. não. isso acho que não tem razão de ser. acho que não. então porque é que há-de perder? pelo contrário, se ele se, se vai usar coisas que ele possa se sentir melhor, muito ma[...], enfim, eu acho que não. qual é, perde a virilidade porquê? acho que isso não faz r[...], sentido.. não. claro! eu não digo que, que f[...], que perca a virilidade. exacto.. por isso. o que eu digo é que alguns podem pensar que perdem.. é, pronto. eles podem pensar porque, pronto, ah, na cabeça deles, eh, não estão mentalizados, pronto, não estão muito mentalizados para isso, não é, eh, é tudo uma questão de educação, acho eu, e de princípios.. pois.. leva o seu tempo.. e acha que [...]. o homem hoje está muito mais aberto já, enfim, a certas mudanças, não é, que não estavam os nossos avós e.... claro!. eh, e pronto, enfim, as gerações muito anteriores. hoje o homem está muito mais aberto.. hum, hum. e acha que com o tempo essa, essa evolução.... sim, sim. eu penso que sim. eu acho que sim, que com o tempo que o homem vai... criando hábitos e vai mudando. acho que sim. mesmo hoje um homem já se interessa bastante por usar um after-shave, portanto a seguir à barba, eh, pôr uma água-de-colónia, enfim já acha es[...], que isso é um produto necessário, não é, e já por norma o homem, isso usa. agora um creme hidratante ou, enfim, fazer um, um tratamento especial à, à cara é natural, pronto, que a maior parte não estejam de facto mentalizados. eh, pronto, eh, enfim, ainda perdura assim uma mentalidade um bocadinho antiquada. mas eu penso que os nossos jovens que já estão noutra direcção.. hum, hum. e.... isso seria os, os homens antigos, enfim. hum, hum.. mais antigos, vá!. eh, talvez também porque são coisas minuciosas, estar a fazer uma máscara demora tempo.. não é, não demora nada. a máscara, eh, isso era antigamente, quando fazia-se aquelas máscaras, eh, pronto, em casa, caseiras, isso é que, pronto, a preparar, e tudo isso. hoje não! hoje está tudo, o campo está todo facilitado. é um creme como outro qualquer, que se põe na, na pele. e depois fica. a maior parte, eh, das máscaras é para ficar, nem é preciso retirar. a menos uma máscara de firmeza. essa normalmente é necessário, porque ta[...], forma uma pasta e, portanto, e estica a pele e é necessário depois, eh, nós lavarmos a cara. mas há máscaras já com as duas propriedades: de firmeza e de... hidratação que são utilizadas como um creme. não é necessário depois retirar. eh, eh, ah, a não ser que a pessoa, pronto, sinta que está um bocadinho engordurada, ou assim, pode passar um lencinho para tirar o. hum, hum.. o excesso. mas não, não há necessidade. portanto isso, não é d[...], nem absorve muito tempo. é uma questão de hábito.. hum, hum.. não é, a pessoa todos os dias lava os dentes, toma o seu duche e tudo isso. se o homem também se mentalizar que todos os dias tem que pôr um cremezinho na cara para amaciar, é uma questão de, de há[...], de um hábito adquirido. hum, hum.. hoje, que a mulher hoje já tem esse hábito, não é, sente essa necessidade. portanto, em pôr o seu baton, ou em pôr um bocadinho de base na, na cara, pôr um pó-de-arroz, pintar os olhos, hoje em dia a maior parte das mulheres já sentem essa necessidade. pronto! e, porque adquiriram esse hábito ao longo dos anos. e os homens também, acho que, com o tempo, lá chegarão. a, não, enfim, não pintarem-se, mas pelo menos a porem o seu creme. não pintarem, é como quem diz, porque enfim, os a[...], artistas pintam-se e não há mal nenhum nisso, não é,. claro. para actuarem.. sim, homens. e até mesmo os jornalistas vão para a televisão e tudo isso e a gente vê que eles estão maquiados.
Portugal
Roalde - Sabrosa - Vila Real
M
60
1995
ela, ela diz que gosta disto, das bruxas. é.. então não gosta. u[...], uma ocasião... saí daqui de casa eram onze para meia noite. foi, foi em Junho. aos tantos não sei, mas isto já lá vai, ai, eu estava solteiro ainda. já lá vai há. hum. pois.. sei lá! tinha para aí alguns dezoito anos, ou dezanove. há cinquenta anos, pronto.. ainda não tinha ido para a tropa e, e eu tinha deixado os bois lá em baixo ao pé do Pinhão. e depois, ali para lá de Vilela eu, há ali, havia ali um atalho para baixo que ia, ia, chamavam-lhe os Muros, quando foi às tantas, aparece-me uma cabra a berrar. e eu digo assim 'ah! que grande cabra ali anda. os pastores madrugaram hoje'. como os pastores de Verão levavam a fouce e iam, ah, que estavam os pastos secos, iam cortar, eh, folhas aos castanheiros, aquelas pernadas, que era para o gado comer. ora bem, aquilo foi-se amarrando, amarrando, amarrando e eu... digo assim 'ai! que cabra tão, tão bonita, se a agarrasse tenho lá em baixo a camboada, prendia-a lá e já, e já tinha uma, uma, uma cabra', eu assim. ora bem. [...]. quando, quando ela foi-se amarrando a mim, amarrando a mim e eu olhava para trás, olhava para trás. quando está[...], está[...], havia ali uma fraga muito com[...], muito ao fundo e, e eu olhei para a frente, para descer a fraga, para chegar ao caminho largo, e olhava para trás. ela vai de trás, pimba! prega-me uma turra. e eu conforme pregou a turra viro-me para trás [...] não era nada, ela fugiu, olhe, quantos pinheiros, quantos castanheiros havia [...] baixo caiu tudo abaixo. era uma fim do mundo. caía t[...] abaixo tudo rrr, digo assim 'ih Jesus, Maria'.. caía porquê?. não caiu nada. era o barulho. ah!. era o, era o barulho que aquilo fazia. quando foi. [...]. quando foi.... muito obrigada.. [...]. quando foi que cheguei. muito obrigada, Deus lhe pague.. quando cheguei à quinta, o caseiro, à noite cozía-me lá as batatas, fa[...], dava-me a sopa, eu andava lá a acartar so[...], solipas, travessas para as linhas do comboio - não sabe onde, q[...], onde a. sim, sim, sim.. as linhas do, do. assentar.. aquelas coisas de pau que se assentá[...], que, onde assentam na, as linhas, eu, a[...], eu acartei muito disso. à noite, quando foi à ceia, digo assim 'ó tio Afonso, carambas, hoje, hoje é que vi uma cabra, tão linda, lá em cima, no, no atalho do cemitério de Vilela'. e diz ele 'era uma tal cabra!'. 'então, e então ela berrava, ti[...], tinha os chifres como uma cabra, e tudo, aí, ah, ainda me pregou uma turra' 'e não tremeste? foi, foi o que, o que te valeu'. pronto! era o diabo, sei lá. sei lá se era o diabo. bem, quando venho para cima estava tudo de pé na mesma. não, não caiu nada abaixo.. sim.. mas eu f[...], eu fui logo para trás com uma pedra na mão, eh, ela botava para aí alguns cinco quilos, a pedra. e levava uma vara dos bois, des[...], destas varas enferradas como já, como já mostrei há b[...], bocado. sim.. mas a vara parecia-me tão leve! peguei numa pedra, fui logo para trás, logo para trás, e aí eu depois fui-me embora. nunca, nunca mais vi nada. quando era que, hav[...], tínhamos aqui umas encruzilhadas, eh, uns caminhos que uns davam para São Martinho, outros davam Sorados, davam para aqui, e depois, de Verão íamos carregar de madrugada o, pinheiros ou cavacos ou rama ou estrume. os meus irmãos iam no carro, e não viam nada e eu adiante dos bois via a, via as bruxas, de branco a, a dançarem o fado, para aqui, para ali, e para além e, e eles não as viam e eu, e eu via-as. deixá[...]. [...]. deixavam aos molhinhos de palha assim, no, nos caminhos com uma, com umas chocolateiras que a gente diz que era feitiços, sei lá! hav[...], havia, havia muito.... mas como é que eram?. muito disso. eram, eram, aquilo nem que a gente, se quisesse amarrar aquilo, aquilo, desfazia-se. diz que eram, diz que eram as bruxas, sei lá! eu, eu, eu, aquilo nunca, aquilo não fazia mal nenhum a ninguém. o que é, se pudesse enganar a gente, enganava. duma vez, saí daqui com os bois e mais um irmão meu aí de cima, desse portão, e quando chegámos ali a uma mata, os bois desapareceram e nunca mais os vimos. e levavam a chocalhada. e a chocalhada parou de tocar e, e viemos a casa buscar os fachoqueiros, corremos aquela mata toda - era uma mata aí adiante, basta - e não se viam os bois. quando, quando depois tant[...], tanto andámos, tanto andámos, lá fo[...], fomos dar com os bois em cima ao, ao caminho e depois elas começavam-se a rir. riam-se, mas a gente só ouvia rir e fu[...], e iam-se embora, não se via era mais nada. e não faziam mal nenhum a ninguém. lá agarrámos os bois, apusemos ao carro e fomos, e fomos embora. doutra vez, ia a chegar ao Pinhão, com um carro de, de, de feno, e um irmão meu ia em cima, deitado. e elas soltaram-me um boi, ficaram as sog[...], as, as bolsas da soga na molhelha e caiu a molhelha ao chão e, e ia as sogas às voltas, conforme o meu irmão [...] assim, assim estavam. elas faziam qualquer coisa. quando foi co[...]. espantoso!. a, a molhelha ficou debaixo do carro e ia o, e ia o, o carro parou. diz o meu irmão 'o que é que foi?' 'eu sei lá! o boi está solto'. ele desceu para baixo, começou às carvalhadas, saiu de lá um melro do, duma, dumas, dumas silvas 'tutchu, tutchu, tutchu'. era, eram, eram elas. elas faziam coisas que era uma coisa por demais.. aí transformou-se em melro.. [...] era um melro! mas o meu irmão depois dizia carvalhadas para lá a torto e a direito. assim, ai embora, mas a mim, a mim aconteceu-me muito disto. muito, muito, muito.. engraçado!. engraçado!. diz que, diziam que quem, quem encontrasse as bruxas que lhe faltava a palavra do baptismo.
Portugal
Porto
F
47
1995
não acha que, de um modo geral, a miudagem já não est[...], eh, em todos os aspectos da vida, não, não quer grandes sacrifícios? não é só no estudo. são.... mas exigem, exigem-se-lhes muitos sacrifícios, eu acho, hoje.. acha?. acho, acho. então, eh, nos complementares, naquilo que se chamava complementares, e no décimo segundo ano sobretudo, eu acho que é uma exigência brutal, m[...], brutal. . em níve[...], a nível da matéria, dos programas?. matérias, de, e falta de tempo, muita coisa para estudar, pouco tempo, e eles não têm, não conseguem viver nada que diga respeito à idade deles. eh, eu tenho uma filha, por exemplo, que está no décimo segundo ano, e que eu ontem fui almoçar a casa de uns amigos, e ela ficou aqui a estudar. e tem sido isto sistematicamente, todos os fins-de-semana. porque durante a semana não têm tempo para estudar, porque têm um currículo muito pesado, em termos de horas, e o que acontece é que durante a semana não têm suficiente tempo, depois têm testes, têm que estar preparados para os testes, acabam uns começam outros, e a verdade é que eles não têm tempo absolutamente nenhum. é uma adolescência estúpida, porque eles não vão ao, não podem ir a lado nenhum, não têm tempo para, para se dedicar a, à música - ela, por exemplo, andava em piano teve que deixar, andava em ginástica teve que deixar - não há tempo para nada. o que eu sinto é isso.. hum.. que eles p[...], passam a, a sua juventude a estudar, agarrados aos livros, assim em cima de uma mesa, e não fazem mais nada. a[...], aqueles que se aplicam, claro.. claro.. sorte a dos outros, se calhar, que não se aplicam.. pois. e quando é que eles vão viver a sua vida...?. não sei. não sei. realmente acho... que está, está-se a exigir demasiado de, desta gente desta idade.. hum, hum.. não se, se depois na, na universidade se as coisas continuam. ui!. como no meu tempo, se pioraram, não sei.. penso que continua a ser [...].. eh, só sei é que realmente se está a estraga[...], e[...], eu olho para eles - claro que eu não vou dizer isto assim, à minha filha posso dizer, porque ela é muito responsável, mas a verdade é que não se pode dizer isto aos miúdos de quinze, dezasseis, dezassete anos - mas a verd[...], mas sinto que eles não vivem nada que diga respeito à adolescência. eles não podem ver televisão porque os pais mandam-nos para a cama, porque de manhã têm que se levantar às sete e um quarto, depois passam o dia inteiro nas aulas, chegam à noite, eh, não têm tempo, como digo, para fazer, ah, qualquer actividade extra-curricular.. nem sequer para conviverem. é o que eu sinto. com os pais, não é,. sim. eu cruzo-me poucas vezes até com a minha filha, a não ser à noite.. pois.. é isso que eu sinto, que, que, acho que têm muitas disci[...], demasiadas disciplinas, penso eu.. e tudo isso em nome de, de se prepararem para vencer na vida, não é,. é verdade. vencer na vida, ao fim e ao cabo é para, só para, para ter possibilidades de um dia vir a ganhar dinheiro, empata-se toda uma adolescência, toda uma ju[...], uma juventude, para se começar a trabalhar já tarde, não é, porque é. pois.. já tarde, e se calhar nem sequer emprego ter.. pois. muitas vezes acontece isso também.. então esta, esta geração agora vai ter muitos problemas, penso eu.. pois. só os muito bons é que vão... arranjar alguma coisa com mais facilidade, não é,. se calhar. mas mesmo esses... depende dos cursos que também pretendem ir.. hum, hum.. mesmo os muito, os chamados muito bons ainda depois terá que haver, eh, os ainda me[...], melhores, melhores que os bons.. pois é. e depois as entradas nas universidades são complicadas também.. sim, e eu penso que aqui em Portugal, pelo menos - não sei se nos outros países sucede a mesma coisa - mas parece-me que é muito injusto, ah, algumas coisas que estão a suceder, que é o facto dos alunos que frequentam colégios particulares, eh, conse[...], conseguirem, eh, alcançar médias que nunca conseguiriam alcançar na, no ensino público. e isso faz com que eles ocupem, eh, primeiro, as vagas que deveriam ser ocupadas por efectivamente aqueles que se empenham mais.. pois.. e isso verifica-se aqui, por exemplo, no Porto, eu tenho alunos que... são capazes no segundo período de estar chumbados a quase todas as disciplinas, vão para o colégio, na, matriculam-se portanto na Páscoa no colégio, passam e regressam às, ao liceu à, que não é liceu, não se chama liceu. pois.. actualmente, aqui é. pois.. aquilo é quase como se fosse um liceu. pois.. à escola secundária. e regressam e, depois no ano seguinte é a mesma coisa, e chegam lá, voltam a passar, e, e depois no décimo segundo então frequentam mesmo o colégio, tiram as notas necessárias e suficientes para entrar num. pois.. curso qualquer e, e realmente vão ocupando as vagas que os outros mereciam.. portanto isso leva-nos a um problema interessante, que é o problema da avaliação, que deveria ser, se calhar, de âmbito nacional, e não.... eu acho, mas, mas o problema é que, dá-me, o facto de ser de âmbito nacional, quem é que corrige?. equipas nomeadas. pois, não sei. porque também o facto do teste ser nacional não significa que depois eles sejam avaliados da mesma maneira.. pois. antigamente como é que se procedia, no caso dos colégios? iam fazer aos liceus, os exames, não é,. iam, iam.. era isso que devia acontecer, não é,. mas mesmo assim, como a classificação - que eu acho correcto que a classificação final entra com a média das frequências.. claro.. mas a frequência, essa nota da frequência é dada p[...], na então, no sítio onde eles frequentaram. portanto automaticamente está viciada.. pois está.. porque mesmo que haja um teste a nível nacional, eh, se cinquenta por cento da, da nota entrar com a frequência, automaticamente está outra vez viciada.. sim. mas se o aluno for realmente muito mau chumba e... portanto não serviu de nada a média que ele tinha do colégio, não é. se ele tem quatro ou cinco no exame de nível nacional, eh, bem pode ter catorze ou quinze de média, não é, porque chumba.. bem, nã[...], eu, há uma, uma, uma... fórmula de avaliação final do décimo segundo ano, que neste momento não tenho presente, mas, eh, que, que realmente me parece que os alunos, eh, do ensino público estão sempre um bocado em desvantagem em relação aos do ensino privado. e a prova é que eles vão todos p[...], quando estão mal, vão para os colégios. por alguma razão é.. portanto, não é justo.. por alguma razão é, não é.
Portugal
Angra do Heroísmo - Açores
F
28
1996
e, e portanto esses conjuntos que tu dizes conjuntos de baile significa que aí, por essas freguesias fora, as pessoas já não ouvem aquelas modinhas de antigamente, de.... ah, já não, não querem e, pronto, os conjuntos que existem cá todos eles tentam estar sempre, eh, em cima do, do top e aprenderem a, os primeiros classificados, aprenderem da melhor maneira para agrad[...], para agradarem ao, aos jovens que vão ouvir, já também não se vê as, as senhoras velhotas a irem... a, ao, a, por exemplo, quase sempre os concer[...], os concertos é na Segunda-Feira à, à, à noite. hum, hum.. já não são as senhoras que se vão sentar à frente da cadei[...], com a cadeira à frente do, do palanque, já é os jovens e, e pronto.. isso sugere que actualmente há uma diferença pequena entre a juventude de, de, digamos, do campo, das freguesias e a juventude da cidade, não é,. há uma diferença muito pequena porque, pronto, a maioria qu[...], qu[...], quase, quase eles todos estão a estudar na cidade, passam praticamente o dia, vêm de manhã vão-se embora já por cinco, seis horas e pronto, o tempo que, que passam nas freguesias rurais é para dormir ou. hum, hum.. ou, ou, ou estudar, estão fechados dentro de casa, pronto, a diferença é mínima.. pois, porque numa fre[...], freguesia rural, a um jovem que está a estudar, oferece poucas coisas, não é,. pois. muitas poucas. não deve haver nada até s[...], não s[...], não sei, não estou a par disso mas suponho que o, a casa do povo não, o que é que a casa do povo deve ter? uma antena parabólica para se ver televisão... de fora e pouco mais, sim.... e achas que as pessoas nas freguesias vêem, eh, programas de televisão de f[...], eh, estrangeira?. ah, como novidade, eu suponho, eu tenho passado, quando passo assim pelas freguesias e olho para as casas do povo vejo sempre uma antena parabólica, logo, suponho que. hum, hum.. que eles tenham uma antena parabólica e ve[...], e, e devem ver, eh, eu suponho que, por uma questão de curiosidade, pelo menos, eh, mal se pôs a antena parabólica devem ter ido lá ver, não?. pois! porque as pessoas não percebem. sim, sim.. depois, não é,. às vezes também é um erro, não percebem, eh, algumas percebem, não é,. algumas.... precisamente esses jovens que estão a estudar percebem, pois.... a estudar percebem. exactamente. e por outro lado também, desafios de futebol, não é,. ah, sim, isso então enche tudo, que é casas do povo, cafés, bares... . hum, hum.. é, é.... portanto, digamos que aquela diferença entre a cidade e o campo está-se a esbater.... ah, absolutamente! acho que sim. ma[...], e mais a mais, pronto, jovens, eh, sabendo precisamente isso, os jovens do campo querem-se parecer mais com os jovens da cidade, apesar de isso não ser nenhuma vantagem, nem ser nada de.... hum, hum.. de bom, mas, para não, para não se[...], precisamente para não serem apelidados de jovens do campo, então.... e.... imitam os outros. hum, hum.. o que também não é bom.. e também não é bom. e tu achas que actualmente, eh, continua a ser melhor morar em Angra de que no campo, visto que os do campo têm acesso a isso tudo, eh, morar no campo, morar na cidade, o que é que isto te diz, esta dicotomia? . não. morar na cidade? morar na cidade é bom porque temos acesso a muitas mais coisas, basta sa[...], sai-se de casa e está-se em tudo onde se quer ir. agora, talvez seja mais calmo e, e mais repousante morar no camp[...], morar no campo, mas aí é que está, tem que se ter transportes também à mão, não é,. hum, hum.. por exemplo, um jovem, o jovem que não conduza... tem que estar dependente de, de, de urbanas e. hum, hum.. de camionetas, de carreiras.. eh, e agora uma questão bastante pessoal: eh, para uma jovem como tu, o que é que uma cidade como Angra pode oferecer?. eu, eu, eu estive, eu estive na Bélgica há, em oitenta e seis, oitenta e sete, com dezoito, dez[...], dezoito, dezanove anos, quando vim para cá odiava isto. porque não tinha nada, não havia nada - apesar de eu na Bélgica estar numa aldeiazinha, coitadinha, de três mil habitantes, que também não tinha nada mas tinha tudo o resto ao pé - eh, então odiava Angra. 'quero-me ir embora, não gosto', não sei quê. agora espanto-me a olhar para Angra e a gostar. às vezes saio e olho para as, ah, tão giro, tão bonito, uma cidade tão linda e, eh, por isso acho, precisamente que ela o[...], oferece-me tudo o que eu quero. pronto, em aspect[...], no aspecto de lojas, de s[...], no, negócios, de comércio, tem tudo.. hum, hum.. agora não há nada que Angra não, não tenha. eh, em aspec[...], pronto, para se def[...], para divertimento, também tem tudo, tem, está bem que tenha pouco de cada coisa mas... tem discotecas, tem pubs, tem, eh, por isso, eh.... e profissionalmente falando, saídas profissionais?. ah! profissionalmente falando! pois! no meu caso, que estou no jornal, claro, aí está! surgiu agora a hipótese de entrevistar os, os Extreme, mas isso é uma hipótese que surge... de cinco em cinco anos, se é que surgir! de vez em quando pela san[...], pelas sanjoaninas principalmente, vêm cá grupos de, mais grupos de fora. hum, hum.. dois ou três. aí já há mais uma hipótese. hum, hum.. de eu fazer umas entrevistas. durante o ano, claro que não há muito trabalho. e aí está: é uma das desvantagens, se eu por exemplo, se estivesse em Lisboa, já tinha entrevistas todas as semanas, não é,. hum, hum.. aí, neste campo, nesta profissão, é, é pena, de facto!. e nos momentos em que tu tens poucas entrevistas a fazer então r[...], fazes trabalho... de gabinete.... sim, sim, sim. pois, eu estou no jornal a trabalhar nos computadores também. hum, hum.. precisamente por não haver material suficiente para me manter ocupada o ano todo.. hum, hum. e tu achas que é mais excitante fazer as entrevistas?. ah, absolutamente, credo! claro, sem dúvida! dá mais trabalho mas, mas é muito melhor.. sim?! porque... aprendes coisas novas ou p[...]. sim, porque olh[...], eu o que eu mais gosto é... c[...], música, cinema, literatura. hum, hum.. e, eh, e pronto, faço também os, o cinema, a crítica de filmes e, eh, mas qual era a pergunta? eu entretanto esqueci-me.. não, porque é que tu achavas que fazer as entrevistas era mais excitante, se era por aprenderes coisas novas.. ah sim! por aprender coisas novas, por contactar com, pronto, já não tenho idade para isso, mas com os meus ídolos, entre aspas.
Portugal
Faro
M
20
1995
portanto, pertences a um... grupo de futebol, tens os treinos mais ou menos diários, é?. sim. normalmente. depende de, vá, da qualidade do clube, do cal[...], da qualidade do campeonato que está a disputar.. hum, hum. hum, hum. e esse treino, portanto há uma parte que é mesmo igual para todos, então, não é?. é. há o treino conjunto, que é. ah, pois. [...]. pois, futebol. e há o treino técnico específico, que é jogadas ensaiadas, tipo livres, directos, cantos, e depois há outro treino técnico mas... de, da própria técnica em si, tipo, aquilo que eu lhe disse há bocado. sim. fintar. hum, hum.. receber a bola, rematar.. normalmente, eh, quantas horas treina por dia um jogador?. profissional? da primeira divisão?. ao nível a que tu jogavas?. ah, p[...], a nível a que eu jogava, pouco. uma vez, du[...], de dois em dois dias, para aí, duas horas.. duas horas de dois em dois. mas um jogador do Benfica ou um jogador profissional. hum, hum.. da primeira divisão treina quatro horas por dia, ou cinco mesmo. duas e meia de manhã, duas e meia à tarde.. é duro!. é duro.. e chato também, com certeza, não?. sim, não, um gajo faz o que gosta, é sempre bom.. eu penso que, ah! mesmo fazendo o que se gosta há partes que são chatas.. ah, claro! eu, por exemplo, gostava muito de jogar futebol, mas, se jogava ao Domingo à noite, [...] ao Domingo de manhã aliás, Sábado à noite não ia sair. prontos, é logo aquela, mas pronto, não ia sair. e depois há os esfolões, as feridas, eh, aquelas coisas todas. mas prontos isso... a gente está no chão todo esfolado, vê a bola a passar, levanta-se logo e pronto. passa logo tudo.. mas, portanto essa história de, de, de mu[...], de na véspera de jogar não poder sair é chato, não é,. é um bocado.. e es[...], e a juventude mesmo assim reage... e ultrapassa.... ah! depende, claro. isso só depende de cada um, não é, até há jogadores no Benfica e no Sporting que não, que não ultrapassam, e saem à noite, e vão às meninas, e... discotecas. mas prontos, nunca rendem o, não é,. estás a pensar na história recente . do Sekouravi.. bom. pois. mas, no meio disso tudo, desse trabalho duro, creio que numa equipa, eh, e é isso que, que eu acho que é interessante, se desenvolve um espírito muito especial, não é,. ah, claro. uma pessoa conviver, não é, todos os dias com o mesmo grupo, depois ainda por cima é tudo homens, não é,. hum, hum.. aquilo é, prontos, mais ou menos um desporto de homem, prontos, eh, conversas de homem, aquelas coi[...], aquelas cumplicidades, e prontos, cria-se sempre bons ambientes, bem dispostos, normalmente.. bom, e aí há uma questão interessante, que é normalmente diz-se que o elemento feminino num grupo que, que equilibra.. sim, se calhar sim.. mas, n[...], em contrapartida, eh, nesse, nessas situações em que só estão homens há um ambiente muito especial que se desenvolve.. é, muito especial. claro.. e que não precisa de ser equilibrado, não é,. pois, acho que não. pois, que cada um... é, é, é mais, é mais, são mais expansivos quando é só homens, não é, mas isso é normal.. portanto, no fundo não é preciso... o elemento feminino para equilibrar, como se diz então.. sim, numa equipa de futebol, julgo que não será. não, mas há muitas mulheres que gostam de futebol e.... eu sei. eu sei que há muitas mulheres. fanáticas [...]. mas normalmente as equipas não são mistas.. não, não. não há equipas mistas.. pois.. há futebol feminino, mas não há equipas mistas.. pois. penso que neste momento é um problema sério, que começa a.... não mas, eh.... a levantar-se.. devem ser poucas, prontos, mulheres atletas para jogar futebol de competição com, o futebol é um desporto rijo!. achas que as mulheres não.... costuma-se dizer que não é para m[...], não é para mulheres o futebol.. é?. o futebol não é para meninas. quando um jogador se queixa 'ai, ai! e tal, ele bateu-me'. 'o futebol não é para meninas'. mas, prontos, entretanto, é um jogo duro.. é um jogo duro. mas há mulheres que são muito resistentes.. mas, acho que sim, está bem, mas um jogador sente sempre, não é, fazer uma falta a um gajo ou fazer uma falta a uma mulher é sempre, não se sente bem à vontade. ou se está uma mulher à baliza, não é, a gente não vai mandar um bojardão sabendo que pode acertar na cabeça da mulher [...]. olha, eh, numa equipa de futebol, eh, tu muitas vezes encontras ali jogadores que são... praticamente analfabetos, não é,. sim.. como é que, que os teus, que as tua[...], os teus laços de camaradagem se vão desenvolver com um tipo que é completamente analfabeto? qual é a capacidade de diálogo que vocês têm?. oh, prontos, bem, se vamos falar de cultura, claro que não é a mesma, não é, mas... os diálogos. eu estou apenas a fazer perguntas, não.... pois. nos diálogos no futebol baseiam-se muito na, pois, conversa de homens, tipo de mulheres e 'viste aquela', 'é muito boa!' e tal, aquelas coisas, e depois conversa sobre o jogo e sobre o treino e 'vê lá se jogas mais assim e mais assado', nunca entramos em discussões filosóficas, não é, sobre cultura geral porque normalmente não, os jogadores de futebol não são muito para aí virados. mas não digo que não haja. deve haver.. achas que.... uns mais espertos que os outros, claro. há jogadores de futebol com, licenciados.. pois. normalmente têm-se a ideia que jogador de futebol igual a analfabeto, não é,. sim. não é bem assim. um jogador de futebol para ser muito bom tem de ter... uma personalidade, prontos, não digo cultura, mas uma grande personalidade.
Portugal
Braga
F
82
1995
naquele tempo não, não, não se andava muito ah, ah, sozinho, era, tinha de ser. isto, já está a ver, há sessenta e tal anos. eu estou com oitenta e quatro, faz favor de ver.. eh, eh, disse que naquele tempo não se andava muito sozinho. não.. ao contrário do que se passa hoje, não é,. oh, oh, hoje é uma desgraça. só, as, os pequenas - tenho uma sobrinha-neta que aos catorze ou quinze anos já queria, sei lá, andar sozinha, não queria n[...], era de noite e de dia, tudo mais, já sabe como é. elas agora entendem que a, que a liberdade e a felicidade que se constrói assim mas... está bem.. e acha que os pais actualmente podem fazer alguma coisa?. não podem, porque q[...], se quiserem prender em casa, estragam tudo. porque eles vão, encontram-se uns com os outros 'ou o teu velho faz assim, o teu velho faz assado, eu não ad[...], eu não admitia isso, eu fugia', até a[...], aconselham isto. portanto, os de fora, se todos se, se reunissem e fossem homoge[...], uma, uma educação homogénea, não! mas não é. porque cada um o que se quer é ver livre dos filhos. não se preocupam com o futuro deles. preocupam-se com o bem-estar deles e que tem a sua fa[...], eu bem sei que agora a, a altura também não é para brincadeiras. o pai trabalha, a mãe trabalha, os filhos ficam abandonados, não é, eles lá já se habituam a preparar os seus alimentos, etc., etc., tudo coisas que no meu tempo nunca acontecia, não é, e enfim, a, a, a mentalidade agora é diferente porque também a vida é completamente diferente da que eu fui criada.. claro.. completamente diferente. de maneira que, olhe, temos de s[...], de andar com os tempos, mas olhe que escandaliza muito. esc[...], é verdade.. faço ideia. faço ideia.. escandaliza, escandaliza. lá, olhe, na, na, no meu tempo, Deus me livre. então! nós, as festas do Carnaval e tudo o mais fazíamo-las no colégio. de maneira que vestiam-se umas de rapaz, outras de raparigas e faziam os bailes, etc, etc, as que fossem mais magrinhas era, eram rapazes, as que fossem mais rechonchudinhas eram meninas, olhe, e nós éramos felizes, no meio daquilo tudo éramos felizes. mas... enfim. não tínhamos as aspirações que agora têm estas meninas agora, não, não.. e na sua opinião, como é que isto vai evoluir para o futuro?. eu, eu não sei. olhe que, preocupa-me muito isto. porque daqui, mas também digo: as telenovelas brasileiras têm tido grande influência nisto. eu acho que, ou, eu não sei, o senhor doutor não se perde com as telenovelas mas, nós agora, entretemo-nos. eu vejo que não há rapariguinha nenhuma de treze, catorze anos que sim, que seja enfim uma, uma, uma rapariguinha s[...], s[...], s[...], direita, séria. e estão mortinhas por, por conhecer toda a vida etc, etc. ora isto, as de cá também vêem isto. claro.. e acham que é tudo muito natural. e é porque é natural mesmo. agora nas nossas universidades é, é, é, é o que, é o que se sabe, não é,. pois é.. tem grande influência, também, isso tem, porque se a, se o, se as... telenovelas tivessem um, enfim, um, antes de serem exibidas, se, se as fiscalizassem e etc, etc, ajudavam muito a modificar isto. assim não. vamos cada vez para pior.. para pior.. vamos cada vez para pior. infelizmente, mas, mas vamos, vamos.. mas eu estou convencido que... nem sequer no Brasil a vida é como as telenovelas mostram.. ora é isso. eu também estou convencida. mas fazem muito mal.. pois.. fazem mal. porque eu quantas e quantas vezes eu digo ao meu marido 'é impossível que seja tudo assim, porque isto, isto é uma pouca vergonha. tanto faz casados como solteiros, como miúdas, como miúdos tud[...], tudo aquilo, tu[...], tudo, é mesmo, só, só pensam em, em sexo e porcarias e... é só na te[...], naquilo. aquilo é, tem de ser. porque se não, pronto.. este hábito que as, que, que a juventude tem de tratar os pais por os velhos.... pelos velhos, os meus velh[...]. concorda com essa maneira de tratar os pais?. mas isso é brasileiro. isso é brasileiro.. acha que sim?. os velhos. é, é. eles t[...], na, na televisão cá vem ele 'ai o meu velho faz assim, o meu velh[...], o meu coroa, o meu velho', é tudo isto assim.. acha bem essa maneira. não!. dos filhos se dirigirem aos pais?. não. e tratá-los por tu, ainda menos! esta trata. os outros dois não. esta é mais atrevida. mas, mas a, mas os outros dois não. e eu nunca lhe dei licença de tratar por tu. até o neto agora também que a mãe na[...], trata, o neto também trata, o filho dela. mas não gosto porque perdem um bocado do respeito. não gosto não, não gosto.. portanto acha que os seus outros filhos r[...], a respeitam mais que a s[...]?. muito mais, muito mais. nunca, nunca nos tra[...], nem um nem outro. sentem muito, muito medo.. sim. mas.... é, é.. se calhar, isso, não é isso o mais importante, não é.... não é o mais importante mas olhe que tem influência. tem, tem. os outros dois são mais respeitadores do que esta. estou pro[...], pr[...], dá o sermão no[...], logo aos pais c[...], por menos de nada. e, e os outros não fazem isso.. é a mais nova?. é, é, é, é por isso, é. é a mais nova, é a única rapariga e, e, pois o pai... tinha sempre um fraco pelas meninas, depois sempre nasceu esta e... enfim. foi, foi mais... mal educada.. acha que as meninas dão mais trabalho a educar do que os rapazes?. eu hoje dizia que antes queria três, três filhos do que um fi[...], dois filhos e uma rapariga. a rapariga dá sempre mais canseira. mais canseira. é mais difícil. mas... também há, há ca[...], há alguns casais, também já tenho encontrado alguns casais que dizem que são mais felizes com as raparigas, principalmente no estudo.. hum, hum.. que são mais cuidadosas que o rapaz, que os rapazes. esta não foi. esta não foi assim muito, não. aquilo foi mais obrigada senão.... [...]. Deus me livre! mas o, o, os rapazes também lá deram conta de si, vamos, mas, mas est[...], mas esta também deu, mas, mas foi mais um, à força. mas, ah, mas eu, nesse ponto não tive essa sorte. mas, há, há pessoas, há casais que nos têm dito 'ai, as meninas são mais cuidadosas, são mais aplicadas, são assim, são assado', está bem, pronto. que seja assim mas eu p[...], por mim não reparei assim muito lá, cá, comigo.. mas não acha que agora dá mais apoio, se calhar, que os irmãos, não?. sim! agora está aqui. ah!. na, mora aqui pegado mesmo. hum, hum.. e assim. agora está bem. bem, mas, eu digo no, no tempo em, de meninas, dos meninos.. claro.. era muito refilona, muito refilona.. a quem terá saído?. não sei. a mim não. ai, não, não, não, não. não, não, não! [...] já viu, a força dela?!. [...]. é, é, a mim não saíu não, que eu, eu, eu tratava a minha mãe - ai meu Deus - se a minha mãe me ch[...], quando a minha mãe me cha[...], chamava 'ó dona Adília' eu já não sabia de, 'que virá por aí?' e nunca a tratei por tu, nunca na vida. e d[...], quando ela me chamasse com aquelas senhorias todas eu desconfiava logo que havia mouro na costa. mas... não, não. nós também estávamos pouco tempo com ela. mas mesmo assim.. a sua mãe era professora?. não, não era.. ah, desculpe.. era doméstica. era doméstica.. era doméstica.. o meu pai é que era. [...]. tesoureiro da câmara, n[...], em Lourenço Marques.
Portugal
Ponta Garça - Vila Franca do Campo - Açores
M
62
1996
semeava-se, eh, as senhoras co[...], conhecem a semente do linho, não conhecem?. sim.. é uma sementinha muito miudinha, não é,. linhaça.. é uma lia[...], tratam de linhaça, que é a semente, que até é muito, diz que é muito bom para deitar em vistas quando, quando está inflamado e que no tempo a gente deitava, na nossa casa deitava-se, se tinha alguma coisa dentro aquilo no out[...], a gente deitava um grãozinho daquilo e aquilo limpava a vista, tirava tudo para fora. aquilo semeava-se na terra, um bocadinho de terra daquilo, não é, aquilo crescia, não é, bom, quando estava assim grandinho, aquilo era mondado. tirar aquela erva que não e[...], que não era boa, para o li[...], para o linho crescer. as mulheres, raparigas iam mondar aquilo, nem sequer os homens mondavam. era, se tinham tempo os homens também ajudavam a mondar, mas quase sempre era raparigas que trabalhavam nisso. ele crescia mais um bocadinho, não é, crescia. é, o linho era, com rapazes outras vezes e as raparigas, era todo amassado, debulhado, todo, am[...], para ele amassar. [...]. para ele tombar. para ele ficar tombado, a dormir para ali. ficava ali. e ele dali é que se punha em pé outra vez. chegava à fim de muito tempo ele ia-se pondo em pé. até ele espigar e dar a semente outra vez. chegava a altura da semente estar cheia, as pessoas arrancavam o linho e, ah, traziam-no para casa. havia um ripanço - a senhora, não sei se sabem o que é um ripanço. [...]. com uns dentes assim de ferro, sim senhora. encostavam-lha, encostavam aquilo num banco. calça-se a uma pedra.. calçavam duas pedras aqui que eram pesadas para aguentar o banco, calçavam o, o ripanço atrás com uma pedra, também pesada, não é, e as mulheres ripavam aquilo. para, para a semente cair toda, para, para tirar a semente, para o ano ter semente outra vez. depois do linho estar ripado, o linho era estendido em currais de reses, que havia muito curral de reses. [...]. nout[...],num lugar duro, num lugar, não é, na, na terra. num lugar fir[...], num... chão duro. e aquilo estava para ali a secar. acabava de secar, estava ali uma temporada a secar, não é, acabava de secar, o linho ia para o forno. as mulheres coziam pão, e o linho entrava para o forno e coiso, depois de tirar o pão, o forno quente. pois, pois.. aquilo estava tudo em manchinhos, para o forno a secar. acabava de, de secar bem. quando ele estava bem seco, havia aqui nesta casa de meu sobrinho, que é aqui, nessa entrada dessa canada havia ali um, umas pedras do mar, que era de amassar o linho. com a ajuda das mulheres todas ali, que aquilo e[...], estava sempre pedido, quando um acabava entrava outro, aqui essa casa, a minha madrinha tinha isso ali. era o lugar de, de ma[...], de amassar bem o linho.. com quê?. com uma maça, com uma maça de madeira, eu te[...], ainda tenho lá uma em casa, também. as mulheres lá am[...], amassando aquilo bem amassado, acabavam de amassar o linho, o linho entrava outra vez para o forno. ia outra vez ao forno e do forno ia para as pastagens. se[...], ah, estendiam nas pastagens, depois do pasto est[...], ter, ta[...], estar comido, não é com erva grande, é quando, ah, as vacas acabavam de comer o pasto, as mulheres pediam aos lavradores 'homem, tu podes-me deixar estender linho no teu pasto, e assim, assim', ele lá deixava. estendiam aquilo tudo. havia temporadas de vento, que às vezes enrolava aquilo tudo para os cômoros, para as barreiras, alarg[...], era só dizer a elas 'o linho está para ir, vocês vão ver o linho que aquilo estava tudo lá pa[...]', lá as pobrezinhas, juntar aquilo outra vez, para deitar aquilo tudo. quando a erva pegava bem no linho, é que o vento nunca mais levantava.. pois.. aquilo estava ali uns tempos outra vez em [...] e traziam o linho para baixo. ah, lá l[...], l[...], linho para baixo outra vez para as, havia outras mulheres que trabalhavam no linho, que era... gramar o linho.. [...]. com a gramadeira, gramar o linho. depois do linho gramado ia pa[...], para as costas de uma cadeira, para a tasquinha, para tasquinhar o linho.. que era para tirar o quê?. eh, para pôr o linho fino. . pois.. a tasquinha é que tirava aquela folhada toda do linho, aquilo tudo que não prestava que ia fora. e ficava aqueles cabelos, f[...], aqueles cabelos fininhos, muito fininhos, bem tasquinhado, a mulher estava nas costas da cadeira e com uma tasquinha, que era como uma espada de, tudo em madeira. pois.. sempre a dar-lhe e dava, viravam aquilo para um lado e para o outro, tasquinhavam aquilo muito bem tasquinhado. depois de ter bem tasqu[...], eh, tast[...], eh, eh.... tasquinhado.. tasquinhado, ia para os teares, para, ah, ah! havia . [...] havia. ainda havia uma roca.. as mulheres que fiavam.... as mulheres que fiavam, com a, com saliva da boca e estavam com a roca fiando com um fuso. enrolavam aquilo, quando aquilo estava em fio. fazer linhas, para fazer linhas.. fazer linha, é, é que aquilo ia fazer obra.
Portugal
Porto
F
46
1995
bom, diz que vende artigos de... . decoração.. decoração. portanto esta época agora é uma época de grande ocupação para si, não é,. imensa. não há horas, não, só há um Natal e... tem que se aproveitar esta altura do ano para... deitar cá para fora os produtos.. eh, é também cansativo, não é,. bastante. em Janeiro descansa-se.. pois. eh, o que eu lhe ia perguntar era o seguinte: eh, portanto isto começa a preparar... muito, com muita antecedência, não é verdade?. eh, nós começamos a apresentar... artigos de Natal em Setembro, princípios de Setembro.. e para isso teve que os adquirir ainda antes, não é,. eh, pois. primeiro são importados, eh, e depois fazemos feiras a nível, no Porto e em Lisboa, apresentamos os produtos aos nossos clientes. clientes - só lojas.. ah!.... que revendemos... para as lojas.. para as lojas. portanto não é uma coisa de, de venda directa ao público?. não, e depois eu tenho as minhas lojas onde vendo directamente ao público.. sim, já estou a perceber. portanto isso acaba por ocupar o, de facto o.... ocupa.. uma parte do ano.. precisava de mais... umas horinhas além das vinte e quatro horas.. e portan[...]. por vezes.. hum, hum. e agora, eh, po[...], eh, eh, disse-me que importava coisas, não é,. hum, hum. não sou eu que importo directamente.. não?. eu trabalho para uma pessoa que importa. que importa. os artigos.. os artigos.. Inglaterra, Alemanha.. hum. olhe, e os artigos de decoração, o que é que as pessoas mais compram, quando se trata de decorar uma casa?. candeeiros.. candeeiros.. muitos candeeiros. gostam de luz. eu acho. é, é, é, estão, há, há uma fa[...], eu acho que para tudo há fases. eu acho que neste momento as pessoas estão, estão numa de... dar cor à casa. hum, hum.. dar luz. nós estamos a vender muito bem candeeiros.. e candeeiros de que tipo?. eh, design diferentes, eh, são, são, eh, eh, candeeiros essencialmente diferentes.. hum, hum.. e muito réplicas de anos cinquenta.. ah! quer dizer que não é só na música que há essa.... não. eu acho que... mesmo a nível de moda... e de decoração as pessoas estão a voltar um bocado aos anos cinquenta.. porque será isso?. eh, saudades. nostalgia dos anos cinquenta, não sei. porque a gente nova também está, está a voltar muito ao, a, a essa época.. pois.. eu tenho dois filhos jovens e eles ouvem a música que nós ouvíamos.. pois. um certo romantismo, talvez. romantismo também, sim.. em contraste com, com um certo, uma certa crueza que há agora.. com a agressividade que há. sim.. pois. e então as pessoas voltam-se um pouco. voltam mais para o... para o romântico. mais calma, mais tranquilidade.. então isso sugere que não devem ser aqueles grandes lustres de muita luz, não é,. nada. nada. nada. nem, nem sequer... dão muita luz, esses candeeiros.. pois.. eu acho que é mais por, por serem bonitos, por serem diferentes.. e... qual é o país que mais produz esse tipo de candeeiros?. nós, neste momento estamos nós a produzi-los.. aqui em port[...]. aqui em Portugal. e depois temos outros importados, Filipinas.... Filipinas?!. Filipinas. quem diria! . candeeiros com papel reciclado.... ah, ah.. ferro forjado e papel reciclado. peças... bonitas.. interessante. bom, eu estive recentemente em Cabo Verde e vi que eles faziam coisas de ferro forjado muito bonito também.. sim, sim.. lá.. e está outra vez na moda. as pessoas estão, eu acho que as pessoas estão mesmo a voltar para coisas que nós já vimos os nossos pais terem e.... eh, a capacidade criativa também se vai esgotando, não é,. pois. talvez seja isso também. já não há muito que inventar.. pois. e portanto as pessoas retomam o.... retomam o, o de antigamente.. hum, hum. e à parte os candeeiros, há assim algum artigo em segundo lugar que as pessoas comprem muito?. para casa?. para casa.. para casa... gostam de mudar muitas vezes as peças que têm na cozinha, que eu noto isso, todos os dias se vendem peças para a cozinha. acho que cada vez mais, eh, se vê homens a comprar esse tipo de peças, que era uma coisa que não se via aqui há uns anos atrás. são eles que procuram os... talheres novos, que vieram e que são bonitos e vamos substituir pelos velhos que lá estão. eh, molduras, vendem-se imenso as molduras. espelhos.. para pôr fotografias.. para pôr fotografias.. molduras para.... hum.. para fotos. papel reciclado. mas isso é mais a nível de, já de... papel de carta.. hum, hum.. as pessoas estão já a começar... a achar que é melhor comprar papel reciclado.. melhor, porque mais bonito ou porque mais...?. eh, hum, talvez não, não polua tanto o ambiente, pensam eles, eh, é mais bonito. quanto a mim é mais bonito.. também acho. eu também tenho, pessoalmente, também tenho.. eu pessoalmente acho que é bonito. e talvez porque é moda, não sei.. pois.. porque isto tudo é um bocado... por ondas.. e a nível de papel de embrulho, também usam papel reciclado? para isso?. o nosso papel é todo reciclado, só usamos fio reciclado e usamos lacre em todas as prendas.. ah, mas isso é mesmo uma coisa.... que é uma coisa que... ninguém usa quase.. é uma coisa ab[...]. é. temos um ritual de embrulho, que agora nesta altura é um bocado complicado, mas nós continuamos a fazer.. e, portanto, o pessoal que trabalha consigo tem que ter uma preparação especial para... tudo is[...].. eh, é assim: eu é raro ter gente a trabalhar. tenho lá, está lá o meu marido, e depois nesta altura metemos sempre alguém. eh, tivemos muita sorte que metemos uma rapariga que viveu sempre em Inglaterra, eh, está cá há dois anos em Portugal, ela é do Sri Lanka, ela em dois dias estava a fazer os embrulhos. ficou assim, foi a única rapariga que entrou para lá e que realmente, em muito pouco tempo, aprendeu tudo, fala com os clientes, eh, teve uma adaptação óptima. porque é difícil. esteve lá uma que nem esteve oito dias. porque não sabia embrulhar, não, queimava-se, o lacre não dava, eh, é, tudo tem que ter uma aprendizagem.. claro.. ela, realmente, olhou, viu, aprendeu.. é preciso ter uma sensibilidade. e é muito sens[...], é sens[...], é mesmo muito sens[...], ela talvez do sangue indiano que tem. hum, hum.. ela tem uma sensibilidade muito apurada.. pois. e portanto a clientela... adere a esse, bem, a esse tipo de coisas.. gosta muito, é. sim, sim, gostam muito. somos bastante elogiados pelo embrulho, pela, pelo atendimento, eh, aqui há uns anos atrás, há dois ou três anos que começámos a fazer esses embrulhos, e havia gente que dizia 'ai, olhe, isso é para prenda'. porquê? porque levava um fio, eh, e não tinha ar de prenda.. pois.. agora já não sentimos isso. mesmo a nível de... pessoas mais de idade, que gostava de ver os laçarotes, o brilho no papel, eh, já não se sente isso. por isso acho mesmo que as pessoas estão, estão-se a educar... para uma coisa mais natural. não tanto plástico, tão artificial.. não tanto fogo de vista.. sim. porque às vezes é, é só mesmo... a embalagem, o interior.... não conta.. não conta.. pois. é interessante. é, é, é agradável que isso aconteça, não é,. é.
Portugal
Camacha - Porto Santo - Madeira
F
62
1994
pois é. então como é que se fazia o pão, senhora Maria?. ora fazia-se o pão; quando era de trigo da terra, peneirava-se a farinha duas vezes e ao depois é que se deitava dentro da vasilha. era um [...], podia ser uma vasilha de pau e podia ser uma vasilha de barro e agora praticamente é nestas, eh, banheiras plásticas. tenho a minha banheira que é mesmo só daquele... serviço.. então e as vasilhas de pau eram, como é que lhe chamavam, a essas vasilhas? como é que se chamavam?. eram uma celha.. uma celha.. uma celha ou um alguidar. quando era redondo, quer dizer [...], dum, dum tronco de madeira. hum.. fazi[...], primeiro faziam, daquele tronco grande cortavam um pedaço, tiravam-lhe aquela... parte toda. o meio. e ficava... inteiro.. hum, hum. era o alguidar, mas.... a esse chamava-se o alguidar?. chamava-se o alguidar. e havia outros que eram com as tabuinhas postas, tal e qual como as cartolas.. hum, hum, hum.. é como as cartolas. pois.. eram mais.... já estou a ver como é que é. com arcos de ferro e tudo.. sim senhora. minha mãe. sim senhor.. chegou a amassar bastantes vezes numa dessas. e agora praticamente isso acabaram e é... nestas p[...], banheira pla[...]. portanto. numa banheira . e.... plástica. e peneiravam aí para dentro.. peneirava-se.. peneirava-se duas vezes. tirava-se, a gente dizia, tirava-se o farelo e ao depois coava-se para, para tirar o rolão. desse mesmo rolão havia gente que fazia o pão. fazia o pão de rolão para... torrar ou comer mesmo assim. ficava gostoso. do trigo da terra. esta farinha da padaria cá não tem rolão. pois.. e a outra amassava-se, já sabe, amassava-se o pão, depois acendia-se o forno. quando a gente via que o forno estava muitos dias... sem cozer pão, dava-se-lhe mais uma coisinha de lenha para, para fazer o desconto. e quando a gente amassava de oito em oito dias, já se sabia mais ou menos o forno, que a temperatura que andava quente, e o pão... deixava-se a levedar na, na banhe[...], no alguidar.. mas como é que fazia? o que é, tinha que misturar outras coisas no... portanto.... não! fermento. peneirava. o fermento e o sal! . já pode entrar. está aqui filha, [...]. ah, é v[...], é para entrar para aqui.. é a sua filha?. chega-te . deitava-se o fermento e o sal.. e como é que, como é que fazi[...], como é que arranjava o fermento?. a gente tinha o nosso fermentinho sempre de casa, a gente chamava só o crescente. deixava-se.... chamavam-lhe o crescente ou.... o crescente. tinha aquilo b[...], ou deitado numa tacinha, e tapado e à no[...], na Sexta-Feira à noite, a gente deitava uma coisinha de água quente. [...]. deitava-se uma coisinha de água quente, aquilo amolecia mais... da[...], uma coisinha de farinha que a gente via mais ou menos que dava para o pão... deitava-se aquele pedacinho de fermento, no outro dia amanhecia lêvedo, aquele fermentinho que a gente tinha feito. abafava-se bem abafado e no outro dia... . pois.. com licença! no outro dia estava lêvedo, deitava-se naquele pão. depois fazia-se-lhe a, acabava-se de, de amassar. fazia-se assim, dava-se uma coisinha de farinha por cima, uma cruz, as toalhas por cima. quando a gente via que estava bom de tender para cima da mesa, tendia-se, ao passo que o forno ia aquecendo e ao depois estava o pão... quente, o forno estava quente, deitava-se, fazia-se uma rosquilhinha, faz-se uma rosquilhinha para experimentar mais ou menos o calor do forno. quando a gente via que abrasa, deixa-se ficar mais um pedacinho. mas ali uns cinco minutos, seis minutos que a gente vê que a rosquilhinha que não, não tostava de calor, deitava-se o pão, pois.... pois.. quando, às vezes t[...], às vezes tirava-se um pão, dois, experimentava-se, batia-se [...] ainda está pesadinho, cozia mais um bocadinho e assim ia.... batia-se por baixo?. batia-se por baixo, fazia-se assim, aquela coisa e sentia-se mesmo o, o peso de, do pão e quando estava cozido tirava-se e abafava-se. partia-se para o almoço ou com peixe ou com carne, ah, o que nosso senhor deparava.. hum.. sim! eu, faz do[...], Sábado quinze dias eu amassei. faz agora Sábado quinze dias eu amassei.. e portanto, cá nunca se misturava... batata... doce no...?. onde é que está minha querida?. não há?. não havia. há batata doce mas está quase a quatrocentos escudos.. não, mas antigamente, não se costumava misturar? . antigamente quem tinha de casa... misturava. amassava, cozia-se a batata, pela[...], descascava-se, e ao depois ama[...], amassava-se separado e ao depois é que se deitava no pão. limpava-se bem limpinho para não levar.... mas ficava o pão melhor, era, com a batata?. ficava! é du[...], é, dura mais dias, eh, o pão mais fofo. hum, hum.. hum, hum,. e a [...] a maior parte do tempo, era sem batata, minha filha, porque não havia batata. no continente nunca se pôs batata.. nunca! pois.. nunca se pôs batata no, batata doce no pão.. ah, não põem?!. nunca! nunca!. não, não.. ah, nem no Funchal, aquela [...], aquela parte. sim, sim.. mais das freguesias. fazem.. é, é.. acho que estão mais [...], mais costumadas à coisa. sim, sim foi aí que eu aprendi que se punha.... mas eu já tenho visto pão das freguesias, ou é nã[...], não lhe dão o fermento que deve de ser, ou eu não sei. mas portanto o fermento é o crescente, é?. é o crescente para.... chama-se crescente?. é o crescentinho que fica sempre. e quando a gente quer deitar um pedacinho de fermento inglês, nunca se deita no crescente, o fermento inglês.. então? à parte.... é... à parte, junto com a farinha, porque o fermento inglês, indo para o crescente, apodrece mais o pão mais depressa.. hum.. hum!. aquele crescentezinho que a gente temos, tem que se ir sempre, sempre, sempre do nosso de casa. não le[...], não tem que levar fermento nenhum. agora a farinha cá pode-se-lhe deitar fermento inglês, porque... . pois, pois.. pois.. antes de, de, de, de amassar o pão, tira-se outra vez o crescentezinho, do fermento que se fez à noite . para ficar para a outra.... se, para guardar. é assim.. pois.. sim senhor. enta[...] e, eh, e que, que é, de que é que se fazia pão? de que farinha é que se fazia pão?. era far[...] de, era . só. de trigo, é de trigo ou de cevada, minha mãe chegou a amassar pão de cevada.. de cevada.. e o pão de cevada.... e mais nada?. e bolo de centeio. cá que havia pouco centeio. mas havia gente que mesmo não fazia. dizem que... o centeio, que o, que a cevada, que ficava o pão melhor. mas o meu pai nunca fazia assim grandes porção de centeio que chegasse a debulhar para fazer centeio para mandar moer. havia gente que fazia, aqui no nosso, porque isto aqui a parte onde o campo de aviação comeu, isto era um sítio, que era o sítio das areias, que era onde a minha mãe morava.
Portugal
Porto
M
null
1989
vamos agora falar da sua actividade de leiloeiro. ah, já há muitos anos que é leiloeiro. . há vinte e cinco.. o que é que é necessário para ser um bom leiloeiro? claro que tem que se conhecer as peças. é.... tem que se, tem-se um trabalho de bastidores, digamos assim.. é um ba[...], um trabalho de bastidores muito intenso. é preciso uma pessoa ter uma preparação, como antiquário, bastante grande, ler diariamente, estudar diariamente, estar a par dos valores que se praticam no estrangeiro pelas várias peças, porque não há dúvida nenhuma que há muitas pessoas e eu estou-me a referir, por exemplo, às pesso[...], aos directores de museus, sabem muito bem, conhecem todas as peças, mas os valores comerciais das peças são praticamente os lei[...], os leiloeiros que as conhecem, porque é com esses valores que se trabalham, todos os dias, não é, eh, pois, eh, eu realmente até para vários museus e para companhias de seguro, enfim, sou procurado para dar valores, ah, para efeitos de seguro, de certas e determinadas peças, porque, na verdade, nós, os leiloeiros e antiquários, é que estamos realmente preparados para comercialmente dizermos o valor de determinada peça.. é ao leiloeiro que compete avaliar a peça. sim.. ou ela já vai para leilão avaliada?. não, a peça, eh, quanto a mim, deve ser lei[...], deve ser avaliada pelo leiloeiro, e a base de licitação deve ser imposta pelo leiloeiro. às vezes as pessoas vão entregar uma peça e dizem 'ai eu vendo esta peça mas não vendo por menos de xis'. o leiloeiro pode concordar ou não com a proposta da pessoa. eu, no meu caso, devo dizer, eu, no meu caso, tinha e tenho este princípio: as peças que vão ser licitadas, debaixo da nossa inteira responsabilidade, ou, a avaliação é nossa. a partir daí é com o público: quem mais der.. senhor Acácio Luz. [...]. uma questão que me surge, ah, quando um leiloeiro está a fazer a avaliação de uma peça tem que saber que ela é, eh, fidedigna.. ah! pois. tem que fazer, tem que ir peritar e especialmente na pintura. hoje há inúmeras vigarices, quem, desculpe-me o termo, mas é mesmo isto, e... que é preciso detectar, pois há, pintor morre, passado... uns dias aparece logo obra bastante desse pintor, não é, e, e claro, como [...]. significa que nem sempre são autênticas.. não são autênticas. há realmente um mercado de, de falsidades, falsificações bastante grande, mas eu também lhe vou dizer que nós não somos os melhores e os maiores falsários do mundo, pois os outros países, ah, já andam nisto há muito mais anos e as falsificações lá fora são dum volume extraordinário, não é, aqui ainda estamos a dar os primeiros passos mas mesmo assim é preciso cuidado, não é,. que tipos de leilões é que faz? de todas as peças?. sim, faço leilões de tudo. praticamente de antiguidades e também fazia leilões judiciários. o leilão judicial é um leilão, é um leilão com outras características, ah, porque, enfim, são peças, eh, industriais, são, eh, peças que foram apreendidas por qualquer motivo ou por falências, mas eu nunca gostei muito dessa faceta.. prefere os outros.. eu prefiro, e gostei sempre das coisas mais difíceis, e, e realmente tenho este princípio, eu... continuo a estudar, gosto da mi[...], muito da minha profissão e, e cada vez que estudo, mais, mais me convenço que sei pouco.. porque é que.... isto é uma profissão tão difícil, tão difícil.... não é fácil ser leiloeiro em Portugal?. hum, ah, para mim um leiloeiro com, dos pés à cabeça, é muito difícil. é muito difícil porque em Portugal nós temos que saber de louças, temos que saber de pratas, temos que saber de jóias, temos que saber de quadros, temos que saber de móveis, enquanto, por exemplo, as grandes empresas mundiais dos leilões têm técnicos, por exemplo, na pintura, do século dezoito, do século dezanove. especializado.. cada um exclusivo, especializado nas várias, eh, técnicas e nos, várias p[...], espécies. [...]. nós aqui temos que fazer tudo.
Portugal
Lisboa
M
null
1989
o Visconde de Santarém foi o primeiro fogacho, no sé[...], há mais de um século, como acabo de dizer, e no início desse século, ou melhor, no final da segunda década deste século, aparece Armando Cortesão. Armando Cortesão é o grande entusiasta, foi membro, desta academia, sócio desta academia, e até ao final da vida aqui veio com muita frequência, dar conta dos seus trabalhos... de investigação. Armando Cortesão publicou, interessou-se, pelo estudo da cartografia... e, portuguesa, do tempo dos descobrimentos, e começou por publicar uma monografia. era a ideia dele, primeiro há que classificar as coisas, juntá-las, saber onde é que estão os mapas, estudá-los, ver como são. ele começou por fazer um trabalho, eh, sobre... os homens, que eram cartógrafos, do século... dezasseis, de meados do século dezasseis, aproximadamente, segunda metade do século dezasseis, um pai e dois filhos. afinal eles são irmãos, hoje sabe-se isso, embora, inicialmente, tivesse havido du[...], dúvidas, sobre as relações entre eles. Armando Cortesão publicou esse trabalho, se não erro, eu estou a citar de cor, em mil novecentos e vinte e oito, mas já acalentava a ideia de percorrer todos os cartógrafos possíveis, portugueses e do século dezasseis, o que veio a dar lugar a um... livro, dois volumes publicados inicialmente pela Seara Nova, quando ele já estava exilado, em Madrid. pode dizer-se que foi um bom exílio, porque deu essa obra, eh, um livro que se intitula, 'Cartografia e Cartógrafos Portugueses dos Séculos Quinze e Dezasseis'. obra bem conhecida, que ainda hoje é uma fonte de... informação... segura; os lapsos que há nessa obra são pequeníssimos, são... pouco numerosos, Cortesão era um homem... cuidadoso, pelo menos nesse tempo era muito cuidadoso com o que dizia, e essa obra é realmente o que vai lançar, a obra que vai lançar, outras pessoas no mesmo caminho. lança, por exemplo Teixeira da Mota, que também foi, eh, membro, nosso... companheiro nesta casa; lança, António Barbosa; lança Abel Fontoura da Costa, que também passou por esta casa. todos estes homens trabalharam na cartografia, com aspectos diferentes, porque além da classificação e do estudo dos cartógrafos que elaboraram essa, ah, da vida desses cartógrafos, a biografia desses cartógrafos que elaboraram tais cartas, há que saber também como é que as faziam, e aí, os cartógrafos começaram, os historiadores da cartografia começaram a ficar em desacordo. eu penso, há, houve discussões variadas e até acesas, entre estes homens, de, para se chegar a uma conclusão, de como é que se fazia, uma carta, no século dezasseis. não há motivo para discussões, penso eu, por uma razão muito simples: é que nós temos um documento, um texto, dum padre, o padre Francisco da Costa, que estava em inédito mas foi publicado há relativamente pouco tempo, que indica como é que se fazia uma carta. como há outros textos que dizem como é que se faz um globo. bom, em todo o caso, hav[...], houve especulações acerca do sistema de projecção, a meu ver não há nenhum sistema de projecção, houve especulações acerca duma chamada carta plana-quadrada, que teria sido até inventada segundo alguns pelo Infante Dom Henrique, a carta plana-quadrada é um perfeito equívoco, e o António, e o António mac[...], e o António Barbosa mostrou-o, num livro que publicou, e que teve reedição, aliás publicou também, e a reedição, foi paga exactamente pelo Instituto de Alta Cultura, foi há pouco aqui falado, não foi pelo Senhor Professor Abreu Faro, mas foi por um dos seus antecessores, que publicou, a reedição do António Barbosa, que tem o se[...], tem um título muito comprido 'Subsídios, eh, para a História da Cartografia Portuguesa', é um título muito comprido que eu agora não sei reproduzir, eh, textualmente. mas aí ele prova duma maneira muito f[...], muito... clara, a meu ver, que não há lugar para tais discussões; e por uma razão, ele diz o seguinte: de facto, nas cartas portuguesas, a partir de determinado momento, como se começaram a observar, no mar, latitudes, nas cartas portuguesas foi inserida uma escala de latitudes, embora as cartas não estivessem preparadas para isso. foi abusivamente, podemos dizer, inserida uma escala de latitudes e mais tarde alguém teve a ideia de transferir a mesma escala de latitudes para o equador, o que deu como resultado que a carta está, não expressamente mas implicitamente, dividida em pequenas quadrículas. é uma quadrícula. e então nasceu a tal célebre carta plana-quadrada, que efectivamente não foi com esse intuito que o cartógrafo desenhou a carta, foi um acaso de sucessivas, foi uma consequência de sucessivas... abusos, porque se é, se já a escala de latitudes era um abuso, porque a carta tinha sido desenhada por [...] magnéticos e por distâncias estimadas, em que, a, em, a passagem dessa escala para o equador foi outro abuso. bom, esses eram os problemas da cartografia que estavam em suspensos, mas em mil novecentos e sessenta deu-se um grande passo. deu-se um grande passo quando se publicou a 'Portugalia Monumenta Cartographica'.
Portugal
Porto
M
45
1989
chega-nos agora uma carta de uma telespectadora do Porto; «vivo maritalmente com um senhor há dezoito anos numa casa arrendada a ele. pergunto: se o meu companheiro morrer, tenho ou não direito à casa?». chegou-nos problemas do, da transmissão do direito ao arrendamento que tanto temos falado. ora bem, a nossa telespectadora não nos esclarece se o seu companheiro é uma pessoa casada ou não. isso é importante. porquê? porque ela terá direito a que se lhe transmita o direito ao arrendamento desde que o seu com[...], companheiro não seja casado, portanto, seja solteiro, viúvo ou divorciado ou desde que, sendo casado, esteja separado judicialmente da mulher. portanto, nesta situação - no fundo, duma pessoa que não está já ligado verdadeiramente à mulher por laços legais - eh, nesta situação o companheiro vivendo há mais de cinco anos em comunhão de vida idêntica à dos cônjuges, que é o caso da nossa telespectadora, tem o direito a que se lhe transmita o arrendamento. evidentemente - e suponho que será a situação - desde que no prédio não vivam pessoas com um grau de parentesco ou de afinidade em relação ao arrendatário, ao companheiro da nossa telespectadora, que, para as quais se transmita o direito ao arrendamento. já aqui tenho dito portanto que o companheiro está em último lugar na situação de transmissão do contrato de arrendamento. neste caso presumo que a senhora viverá sozinha com o companheiro e transmite-se-lhe o direito ao arrendamento nas condições que referi.. surge agora uma carta dum telespectador de Portalegre. diz o seguinte: «sou casado mas estou separado da minha mulher há doze anos. pergunto: que passos hei-de dar para ela não ter nada a ver comigo nem eu com ela?». bom, a respunta, a resposta é... óbvia embora careça de algumas explicações. é óbvia porque o passo que tem que dar é tentar divorciar-se da mulher. é a única forma de não ter nada a ver com ela e de ela não ter nada a ver com o nosso telespectador. ah, poderemos adiantar mais alguma coisa que ajude o nosso telespectador a resolver o assunto, uma vez que pelos vistos, eh, ignora totalmente - o que é compreensível - ignora totalmente estas situações. ah, o primeiro aspecto é que, se o conseguir, deverá tentar resolver a dissolução do casamento através do divórcio por mútuo acordo. será aconselhável, será preferível. para isso terá que resolver fundamentalmente três problemas, se é que eles existem todos. havendo filhos menores terá que resolver o problema dos filhos menores, entrar em consenso com a mulher sobre... chamada regulação do poder paternal dos filhos menores. concretamente em três aspectos: primeiro lugar, saber a quem ficam confiados os filhos menores; em segundo lugar saber o direito de visita do outro progenitor com quem os filhos não ficam; e em terceiro lugar, a pensão que ficará a pagar aquele dos progenitores que não fica com os menores à sua guarda e cuidados. depois haverá que se ver resolvido o problema do direito à habitação da casa de morada de família; saber quem fica com o direito de habitar na casa de família, ao menos até à partilha do, dessa casa, se ela for comum, ou saber para quem fica o direito ao respectivo arrendamento, se se tratar duma casa arrendada. também tem que haver acordo quanto a isto. finalmente tem que haver acordo quanto à pensão a pagar por um, por o cônjuge que careça dela ao outro cônjuge. isto é fundamental, a verificação destes acordos. por último tem que ser apresentada uma relação dos bens comuns do casal e, preenchidos esses requisitos, é possível requerer o divórcio por mútuo consentimento. se por ventura a mulher do nosso telespectador não estiver disposta a acordar com ele neste divórcio por mútuo consentimento, ele tem pelo menos um fundamento evidente que a carta revela: está separado dela há doze anos. a separação por mais de seis anos, separação de facto por mais de seis anos consecutivos constitui fundamento de divórcio. para isso é necessário propor uma acção em que se tem que alegar e provar essa mesma separação e alegar e provar também que existe da parte do nosso telespectador o intuito de se divorciar da sua mulher.
Portugal
Lisboa
M
65
1990
[...] . porque eu estou a falar em questões que vêm muito de trás, nós não podemos esquecer que o nosso país esteve parado no tempo durante cinquenta anos, e depois destes cinquenta anos em que esteve parado no tempo e apesar dos progressos imensos que fez a demo[...], a democracia ao país, a democracia, o hábito da democracia por um lado, por outro lado, ah, a nossa adesão à Comunidade Europeia, representaram um choque e uma grande, uma grande modificação, uma grande mudança em Portugal, como eu também reconheço. exacto. no país, mas nós gostaríamos que... tivesse sido erradicada completamente a miséria, e sabemos que nos meios urbanos continua a existir, eh, muitas barracas e que as condições de habitação para muitos portugueses são ultra-deficientes, eh, sabemos que existem carências muito grandes na nossa sociedade a vários níveis que gostaríamos de ver naturalmente modificadas. pode isso tudo ser modificável de um dia para o outro? naturalmente que não! isso não vem muito de trás? pois vem. eu estou a chamar a atenção para uma situação e porquê? poque nós estamos numa fase de grande desenvolvimento. indiscutivelmente, e eu digo, nos últimos anos o país deu grandes saltos, quer no aspecto da melhoria do nível de vida dos portugueses e quer no aspecto de certas infra-estruturas, eh, como também na própria mentalidade dos portugueses porque a, a própria mentalidade dos portugueses está a ser modificada e desenvolvida. isso eu reconheço. mas em relação àquilo que nós precisamos e em relação aos nossos parceiros comunitários nós estamos de facto em atraso. [...]. e temos que ter a consciência desse atraso para andar mais depressa e o que e[...], e o que eu quero é que se ande mais depressa.. exactamente. o senhor presidente lamenta nessa, nessa ordem de ideias que de facto, por exemplo, a, a máquina entorpecedora da burocracia não tenha sido movida de outra maneira, não.... exacto, exacto, eu penso que a sociedade civil... . que a reforma do estado não tenha ido mais longe, não é, . exacto. eu penso que a sociedade civil, e penso que sobre isso não haverá dúvidas nem polémicas políticas à volta disso, eu penso que a sociedade civil está a andar mais depressa que o Estado e que os corpos, e que os diferentes corpos do Estado. mas não quer dizer que esse seja uma responsabilidade do governo ou uma responsabilidade d[...], da oposição ou deste governo ou daqueles que foram o governo no passado. não é nessa matéria que eu estou a entrar.. justamente eu gostaria.... estou a fazer uma constatação de facto.. justamente eu perguntava-lhe era se, se o senhor presidente em vez de ter sido o presidente consensual que torna de si hoje, ah, o presidente que sete de cada dez portugueses quereriam comprar segundo uma sondagem recentemente publicada, se tivesse assumido um protagonismo mais activo.... apesar de os presidentes não se comprarem.. apesar de os presidentes não se comprarem.. nem em s[...], nem em sentido literário.. tem to[...], tem toda a razão, mas enfim é uma liberdade de expressão dessa sondagem. se tivesse assumido um protagonismo mais activo não poderia, embora com evid[...], com, talvez com um desgaste maior da sua popularidade que é neste momento enorme, não poderia ter ajudado a avançar essa reforma do Estado de que, que enfim, que considera tão necessária?. penso que não, penso que não. porque, justamente isso é um dos aspectos que eu trato neste prefácio e que é um dos aspectos interessantes, acho eu, porque põe um problema de... sistema, de sistema político e de funcionamento desse mesmo sistema. o presidente da república não tem no nosso sistema funções executivas. quem tem as funções executivas é o governo. na medida em que o presidente da república queira avançar mais do que deve, cai numa área de conflitualidade. e então é pior a emenda do que o soneto, desculpe-se-me a expressão, porque pode querer agir com as melhores intenções mas o que provoca são as maiores pertubações. e eu tive a prudência de não cair nesse aspecto. não por razões eleitorais que nunca estiveram no meu espírito e por i[...], porque eu tenho como sempre, como sabe e sempre dito que não desejo recandidatar-me. não por razões portanto eleitorais que nunca estiveram no meu espírito mas por leitura que faço da constituição e coerência. eu há muito tempo que digo que o presidente não deve intervir. o presidente não tem que intervir na área do, do executivo, tem que respeitar o executivo e tem que ter solidariedade institucional em relação ao executivo.. em todo o caso, senhor presidente, o que está em jogo nesta globalidade das questões europeias, eh, que se nos apresentam, não justificava, com todos os riscos que acaba de, de anunciar ou, enfim, de, de relembrar, uma intervenção mais dinâmica da sua parte?. poderia eventualmente justificar se ela me fosse solicitada, mas só nesse sentido, porque como quem orienta a política externa do país é o governo, obviamente que eu não podia nunca, ah, permitir-me tomar iniciativas em matéria de política internacional, nesse aspecto ou noutros, sem estar em concordância com o governo.. tem sido solicitada, essa intervenção?. nalguma medida tem, noutra medida não.. isso, entende isso como uma queixa ou, ou um reparo ou.... não. naturalmente que não é uma queixa. visto que eu não, não tenho idade nem posição para me pôr em bicos dos pés e estar a dizer 'aqui estou eu, aproveitem-me'. . claro, claro.. se entendem que me devem aproveitar, pois que me aproveitem e eu naturalmente estou ao serviço do país. agora não posso é eu tomar iniciativas numa área que não é da minha competência.
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Spoken Portuguese - Geographical and Social Varieties

dataset source: https://www.clul.ulisboa.pt

(1995-1997 - European Commission DGXXII, Programme LINGUA/SOCRATES)

The project is concluded and the materials are published in CD-ROM, with the exclusive publishing support of Instituto Camões, under the title Português Falado - Documentos Autênticos: Gravações áudio com transcrição alinhada. Its distribution outside of Portugal is ensured by Instituto Camões and in Portugal by CLUL. From the original project a corpus of samples of the Portuguese varieties spoken in Portugal, Brazil, the African countries with Portuguese as its official language and Macao was derived. The published materials also include samples of the Portuguese spoken in Goa and in East-Timor, collected later. These samples of oral speech, recorded in various places, situations and periods of time, go together with the correspondent aligned orthographic transcriptions.

Finally, 94 speakers appear in the recordings; their characterizations (origin, sex, age, professional status, level of education) are visible on the header of each transcription, in which is also given information about the place, date and situation in which the recording was made, as well as other relevant types of information.

Main Goals of the Publishing

The use of authentic spoken texts in the teaching of Portuguese as a foreign language is not a common practice; instead, written texts are often used to reproduce the spontaneous speech, without any success. In fact, these artificial representations do not contribute to improve the knowledge of the spoken language; in order to fill this gap, authentic texts, collected in real communication acts with various types of speakers, are now published in CD-ROM: all these texts are samples of existent varieties and uses of spoken Portuguese. The user can read the orthographic transcription while he listens to the recording: the text becomes highlighted as the user is listening to its oral production. The user can listen to the all document or select some passages, as well as repeat or jump parts of the text whenever he wants. The orthographic transcription, besides improving the understanding of spoken texts, constitutes a consistent basis for the study of morphophonological, lexical, syntactic and discursive aspects of contemporaneous spoken Portuguese. The main goal of producing these CD-ROMs was to contribute to the improvement of the understanding (and production) skills in students of Portuguese as a second language of the advanced or superior learning levels. The materials are presented in a way that favors the use of self-learning processes. It is still worth mentioning that, since this corpus was not collected having in mind a specific user profile, it will be useful not only for students and teachers but also for researchers, translators and interpreters, among others, which will be able to select and analyze the materials according to their own particular aims.

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MIT

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