Português de Portugal (Audio)
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e os timorenses?
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claro que aqueles timorenses que nasceram já depois.
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bom, eu estou a fazer uma pergunta desnecessária, porque estes rapazes já nasceram depois da invasão e sentem-se sempre timorenses, não é?
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eh, eu admiro-me bastante.
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admiro-me bastante porque foram educados nas escolas indonésias, mas não perdem assim a sua identidade e o seu orgulho de ser timorense.
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portanto, eu me admiro bastante.
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hum, hum, é, eh, é verdade, os pais terão contribuído muito para isso, não acha?
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é?
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eu creio que sim.
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isto é o resultado da contribuição dos pais.
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os pais é que contribuiram tanto, hum, durante esta ocupação, para que, hoje em dia, os filhos tornam assim.
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se não fosses os pais, pronto, não fossem os pais, os filhos nunca tiveram ou não teriam que ser como agora, pois são.
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não é, pois, porque, porque já nasceram, já cresceram debaixo da influência da sim, da Indonésia.
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é, mas diz-se que q[] eh, os indonésios, por exemplo, dizem que fizeram mais em vinte e poucos anos, que fizeram mais por Timor do que os portugueses em quatro séculos e meio.
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eh, politicamente, a Indonésia tem sempre arranjado estratégias, ou, diplomaticamente, ela tem que jogar assim: hum, hum, mas a nós não negamos.
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fez bastante, se bem que, com este desenvolvimento, poderá assim mudar ou transformar a identidade de um povo.
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a paz não é para ser vendida ou não é para ser comp[], não é uma u[] uma questão muito assim fundamental.
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e a independência também é uma questão muito fund[] fundamental.
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portanto, nós, mesmo que a Indonésia construísse em Timor prédios com bom, de ouro, de platina, nós nunca que iríamos vender a nossa liberdade e a nossa independência.
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pois sabe uma coisa que eu acho curiosa: o os indonésios viveram quatrocentos e cinquenta.
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os indonésios não os timorenses.
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os timorenses viveram quatrocentos e cinquenta anos.
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sim, colonizados pelos portugueses, e sempre aceitaram essa colonização.
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e depois, sim, porque é que não aceitaram depois a maneira muito diferente?
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os portugueses entraram em Timor com uma uma cruz, hum hum, a cruz de Cristo.
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o objectivo era aquela, a evangelização, o cristianismo, expandir o ensinamento de Cristo hum hum, no sudoeste asiático.
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e os indonésios tomaram uma outra maneira, muito assim diferente do que os portugueses.
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hum hum, foram, invadiram, mataram, massacraram e assassinaram aquele povo.
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portanto, sabemos, aquele povo também o povo de Timor era um povo assim revoltoso.
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nunca queria que alguém lhe fizesse mal.
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foi daí é que este povo, e por mais razão, muito assim fundamental, era a independência.
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a independência, a liberdade.
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hum hum.
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disse-me que os portugueses entraram, eh, em Timor com uma cruz na mão.
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é verdade, eh?
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e a a pergunta que eu lhe fazia era a seguinte: havia, eh, eh, religiões, eh, tradicionais em Timor.
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eh, exactamente, eh.
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e e depois entrou o cristianismo.
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essas religiões tradicionais desapareceram por completo, ou mantêm-se de certo modo?
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eh, alguns mantêm-se clandestinamente.
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não todas, não todas as religiões desapareceram.
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na altura, eh, os portugueses, conforme o que eu tinha ouvido, os pais me contaram de que conseguiram não fazer desaparecer a a religião tradicional, mas a conseguiram assim introduzir o cristianismo em Timor, utilizando assim a um uma, uma maneira muito, muito, muito suave.
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digamos assim que, para aqueles que, na altura, queriam que os filhos fossem assim educados nas escolas, tinham que aceitar a ser baptizados.
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hum, e daí mudaram-lhe o nome, o nome.
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nome, assim, eh natural, é um nome muito original do povo.
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era bom, Mau Lec ou Mau Be, ou um Mau qualquer?
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'mau' quer dizer homem, não é 'mau', é homem, é grande, hum, hum, bom, 'mau' é homem, é grande, é senhor, hum, hum, é. e depois, pronto, daí os portugueses introduziram, aplicaram aquele, aquele método, conseguiram mesmo introduzir a o cristianismo e abafaram, não é, posso dizer assim, o, a religião tradicional daquele povo.
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foi, daí é que a religião tradicional desapareceu de pouco a pouco.
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hum, hum, na, mas era um dos benefícios de Timor-Leste.
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costuma ouvir cá as notícias sobre Timor aqui em Portugal.
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sim, e todo o dia, todo o dia, acompanha sempre ham ham, acha que que eles dão bem as notícias ou não?
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o nosso problema foi precisamente isso.
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sobre as imprensas, hum hum, são as imprensas e eles conseguem divulgar o nosso caso através dessa, dessas maneira.
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hum hum, também é uma parte da luta, hum hum, pois nós conseguimos e convencer os jornalistas para entrar lá dentro e divulgar o nosso, o nosso caso.
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se f[] se fo[] se não foram eles o nosso caso, foram, eh, foi abafado.
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hum hum, aqui, por exemplo, há cinco anos atrás, acreditava que o problema de Timor se ia resolver assim depressa?
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não, não acreditamos, eu tam[] eu também não pensava.
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mas é uma grande surpresa para nós.
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tudo isso, também o papel do juventude e a nossa resistência, juntamente com a nossa resistência, a igreja hum hum, consolidar a área internacional.
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e tudo isto e também o esforço do governo português.
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acha que o, quando o prémio, o Prémio Nobel, foi atribuído a dois timorenses, que isso foi um passo importante para para o desenvolvimento, quando Ramos Horta s[] e Dom Ximenes Belo ganham o Prémio Nobel?
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sim, sim, é um passo importante, porque através desse nobe[] Nobel e conseguimos ganhar a opinião pública e a opinião pública internacional e, por uma parte e por a outra parte, conseguimos ganhar a simpatia da comoda[] comunidade internacional.
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foi muito importante, não é?
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sim, foi muito importante e ganhámos um grande passo, pois, pois eu penso s[] penso que aí foi um primeiro, sim, um primeiro passo importante.
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o primeiro passo que conseguiu, eh, conseguimos eh afectar toda a comunidade internacional.
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foi o massacre de Santa Cruz.
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hum, hum, o massacre foi, estava lá nessa altura.
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eu não, não estive lá, não, eu não participei, não, mas eu digo: estava em ti[] Macau.
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em, sim, eu estive em Timor, Timor nessa altura.
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estive em Timor naquela altura, mas eu não participei.
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claro, Baucau ainda é longe, sim, de Dili, pois, e o facto da dos problemas internos da Indonésia também deve ter ajudado.
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sim, deve ter.
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há muitas grupos de opositores da do Suarto.
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neste momento estão a trabalhar juntamente connosco e, através dessa, através do nosso problema, eles também aproveitaram para eh implantar a democracia lá dentro do país deles.
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pronto, dentro do da Indonésia pro[] porque eles neste momento estão a lutar para ah ganhar um passo da democracia dentro da Indonésia.
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hum, hum, e, e penso que eh, Timor também trouxe muitos problemas à Indonésia, não é, sim, sim, em termos de, por exemplo, eh, neste momento há há [] há Atché e mais Molucas, Papua.
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neste momento, elas estão a lutar para o seu destino.
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mas pronto, os seus destinos, claro, mas pronto, neste momento eles estão lutando.
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só que eles tem problema diferente com o nosso.
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o nosso é outra coisa.
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nós, não, não, não so[].
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não fomos colonizado pelo holandês, pois fomos colonizados pelo português, e é e é esta a diferença.
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hum, hum, pois, geograficamente, pronto, a mesma, mas historicamente é diferente.
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depois destes anos de ocupação indonésia, a situação em Timor alterou-se.
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eh, nomeadamente, a linguística.
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o padre Francisco Fernandes tem conhecimento de qual é a situação actual.
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de facto, como afirmou, eh, a situação política.
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eh condicionou a situação linguística.
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antes, o ensino do português era oficial, apoiado pela governo e igreja.
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hoje, está completamente banido.
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a situação actual, o aprendizagem do português foi ainda feito pela igreja até mil novecentos noventa e dois no Externato São José, que foi encerrado depois de doze de Novembro do massacre de Santa Cruz.
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a partir daí, a língua portuguesa é aprendida praticamente nas famílias.
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as pessoas têm agora a tendência de se afirmar diferentemente dos indonésios, portanto, falam português, embora o português não seja correcto, mas tenta expressar-se em português.
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na situação actual- e até há indonésios que aprendem português neste momento- eh, ó, padre Francisco, há aí um, um ponto que, de facto eh a mim- surge-me pessoalmente algumas dúvidas.
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havia alguns casos em que a língua portuguesa era ensinada como língua materna.
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portanto, eu digo: antigamente, ou o português era aprendido mais tarde como língua estrangeira?
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eh, na durante a administração portuguesa, o, os pais que sabiam português procuravam ensinar os seus filhos o português e esse ensino depois é continuado nas escolas, sobretudo nas escolas das missões.
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eh espalhadas pelo território.
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portanto, é raro o aprender o ensino do português como língua estrangeira.
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mais tarde, a não ser os chineses, hum hum, os chineses e outros ou árabes que se encontram em Timor aprendem a língua eh, portuguesa como língua estrangeira, mas o timorense ataca logo como língua materna.
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